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"Assalto ao Trem Pagador" sai em DVD

Obra-prima do gênero policial ganha versão digital. É o primeiro título de uma coleção da Funarte dedicada ao diretor Roberto Farias

Por Agencia Estado
Atualização:

Pense em momentos significativos do cinema brasileiro, aqueles que ajudam a marcar nossa identidade na tela. Vários deles talvez passem por Assalto ao Trem Pagador, o policial que Roberto Farias realizou no começo dos anos 1960, baseado num caso que fez sensação na crônica da época. Grande Otelo, caindo de tanta cachaça e fazendo seu discurso indignado sobre a pobreza no morro, Reginaldo Faria, gritando para Eliezer Gomes, como Tião Medonho, que ele tem inveja do seu olho azul e o outro, depois de disparar, arremata a cena dizendo que agora os peixes vão comer o olho do integrante da quadrilha que não cumpriu o acordo e ameaça o grupo todo com suas ações impensadas. Assalto ao Trem Pagador merece a fama que ostenta, de ser um dos grandes filmes do cinema brasileiro. Pode não ser o melhor do diretor Farias, etiqueta que se ajusta melhor em outro filme que ele fez a seguir, também interpretado por seu irmão, Reginaldo Faria: Selva Trágica. O filme baseado no romance de João Donato tem uma dimensão viscontiana muito forte: a história, desenrolada entre catadores de erva na fronteira paraguaia, trata de temas como a utilização do trabalho escravo do homem e a transformação da mulher em objeto sexual. O próprio Farias prefere Selva Trágica, mas Assalto foi escolhido pela Funarte para iniciar a coleção de DVDs do diretor. O lançamento ocorre nesta noite no Sesc, na Rua Marquês de Abrantes, 99, no Flamengo, Rio. Na próxima semana, o DVD será lançado no Festival de Gramado e Farias e o diretor do Decine - Departamento de Cinema da Funarte, Sérgio Sanz, planejam um terceiro lançamento, em São Paulo, em data a ser definida. Sanz criou as coleções de Humberto Mauro e Geraldo Sarno no selo Funarte. De volta ao CTAV, o Centro Técnico e Audiovisual do Fundo Nacional de Arte, quis iniciar uma coleção em homenagem a Farias. O próprio diretor ajudou-o escolher o primeiro filme, que Farias destaca como uma unanimidade em sua carreira, "o que muito me honra", acrescenta. O próximo será justamente Selva Trágica. Você já pode ir sonhando com o que será esse outro lançamento. Por enquanto, é bom saber que o DVD de Assalto ao Trem Pagador, com quatro horas de material, será vendido por R$ 30, com extras que incluem o próprio filme em versão comentada pelo diretor e numerosas entrevistas com atores e críticos, entre eles Luiz Zanin Oricchio, do Estado. O assalto ao trem pagador da Central do Brasil ocorreu em 1960, em Japeri, no interior fluminense. Os assaltantes, em número de seis, foram liderados por Tião Medonho e, na ficção dramática criada por Farias em colaboração com Luiz Carlos Barreto e Alinor Azevedo, estabelece-se o conflito entre o morro e o asfalto, representados pelos personagens de Eliezer Gomes e Reginaldo Faria. Tião quer criar melhores condições de vida para a família, mas vive dividido entre a mulher (Ruth de Souza) e a amante (Luiza Maranhão, a chamada "Sophia Loren negra"). Grilo Peru, o personagem de Reginaldo Faria, quer a mulher e o carro, para ostentar. Na época atual, em que o cinema brasileiro tropeça em tentativas desiguais de narrativas policiais (Bufo & Spallanzani, Bellini e a Esfinge e O Homem do Ano), Assalto ao Trem Pagador continua sendo um modelo de construção dramática, no gênero policial como opção estética. Com o experimental O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla, forma o par de obras-primas do gênero no cinema do País.

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