As Viagens de Nero

Eterno Django, Franco Nero roda em Paulínia longa de Lúcia Murat e deve filmar com Tarantino

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Por Flavia Guerra
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Aos 69 anos, Franco Nero filma em Paulínia, para onde voou direto de New Orleans, para onde viajou logo depois de concluir uma filmagem na Itália, onde mora quando não está com sua mulher Vanessa Redgrave em Londres, para onde deve seguir logo após terminarem as filmagens no Brasil. Vai receber um diploma Honoris Causa em Londres. Para completar, ainda neste ano planeja dirigir uma ficção com Quentin Tarantino no Marrocos. E ainda, em contrapartida, ser escalado para o próximo filme do mestre do pulp cinema: Django Unchained. Qualquer semelhança com o personagem mítico que lançou Nero ao estrelato não é mera coincidência. "Depois parto para a Iugoslávia, onde filmo um longa de um jovem diretor. Sou um curioso. Minha avó era uma cigana espanhola. A vontade de viajar está no sangue. Por isso, quando Lúcia me convidou, disse: Por que não?", contou o ator ao Estado na semana passada. Lúcia, no caso, é a diretora Lúcia Murat, que roda atualmente em Paulínia seu novo filme: Sala de Espera, que tem no elenco, justamente Franco Nero. O filme conta a história de um grupo de amigos que lutou contra a ditadura no Brasil dos anos 60 e hoje encara o fato de que Ana, elo importante deste grupo, está morrendo. Na sala de espera de um hospital, velhos amigos e duas gerações (de pais e filhos) se encontram. "É uma história bonita, que fala de memória e do presente. Faço o Paolo, um italiano que vive no Brasil. Por ter feito parte da esquerda nos anos 60, na Itália, foi acusado de integrar as Brigadas Vermelhas e de terrorismo. Hoje é um chefe de cozinha famoso e tem uma filha no Brasil", explica Nero, que contracena com Irene Ravache, entre outros.Filmar no Brasil estava em seus ‘planos ciganos’? "Não. Já filmei na Hungria, República Checa, Colômbia, África, EUA, mas nunca tinha pensado no Brasil. Não conhecia Lúcia até que recebi um e-mail: ‘Sou uma diretora brasileira. Tenho este roteiro e queria filmar com você’", relembra. "Li e disse: é interessante, mas é preciso explicar meu personagem melhor. Ela refez uma versão, entramos em acordo. Agora estou aqui. É isso que gosto na minha profissão. Experimentar."Quando se pensa que este italiano, que estudou economia em Milão, já realizou mais de 180 filmes, em dezenas de países, com dezenas de diretores, dos mais experientes aos mais amadores, entende-se que está sendo sincero. No entanto, Franco nunca vai deixar de ser o cowboy Django, personagem título do western spaghetti dirigido por Sergio Corbucci em 1966. Isso não o incomoda? "Não. Tenho carinho por ele. Já filmei com Buñuel, Fassbinder, John Huston, Chabrol... Mas há sempre algo de Django em mim." Mas foi John Huston, que o escalou para ser Abel de A Bíblia, de 1966, e apostou no ainda jovem galã como uma nova estrelas de Hollywood. "Devo tudo a ele. Assim como me ajudou a começar, também ajudei muitos diretores a ‘debutar’. Há muito jovem que assistiu a quase todos meus filmes."Quem sabe tudo de Franco é Tarantino. "Dizia que sou seu ídolo. Quando foi a Roma apresentar Bastardos Inglórios disse à produção que queria jantar comigo. Na Piazza del Popolo, ele me abraçou e disse: ‘Comecei a ver seus filmes aos 14 anos. Nunca mais parei.’ Recitava piadas dos filmes. Até a trilha sonora sabia!"Nero rebateu: "‘Quentin, temos de fazer um western. Aceita atuar nele? Há três bandidos no filme e eu te mato’. ‘Claro! Meu sonho é ser morto por Franco Nero! E como vai me matar?’ Respondi: ‘Com uma metralhadora. E em vez de balas vão sair moedas de ouro.’ E ele: ‘Fantástico!’."Então os dois aguardados filmes vão sair do papel? "Veremos. Quero rodar meu filme, O Anjo, o Bruto e o Sábio, homenagem aos westerns, no Marrocos, e a situação lá não está fácil." Enquanto isso, é quase certo que Tarantino vai rodar em breve Django Unchained. "Sim. Comigo e com Christoph Waltz. Harvey Weinstein me disse isso em Berlim, em fevereiro. Mas juro que não sei se já está certo. Seria perfeito se os dois filmes dessem certo." O fãs, jovens ou não, agradecem.

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