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As atrações do cinema brasileiro para 2003

Há 30 filmes prontos e 50 em fase de finalização. Separações, que estréia na sexta, é o primeiro de uma lista que inclui filmes de Cacá Diegues e Hector Babenco

Por Agencia Estado
Atualização:

Hector Babenco tem alternado momentos de euforia com outros de depressão, tudo por causa da expectativa diante de Carandiru - O Filme, que está finalizando. Babenco tem até fevereiro para entregar pronto à distribuidora Columbia o filme que adaptou do livro de Drauzio Varela (e tem estréia anunciada para abril, no dia 11 ou 18). O bom, anuncia o próprio Babenco, é que, pelo menos, ele não tem deixado de dormir à noite por causa de Carandiru e isso pode ser considerado um sinal positivo, de que no fundo não anda tão preocupado assim. Cacá Diegues não tem apresentado esse comportamento ciclotímico, à base de altos e baixos. Cacá diz que a felicidade é um sentimento sereno. Está feliz com Deus É Brasileiro, que estréia em 31 de janeiro, também distribuído pela Columbia, que pretende lançar o filme com mais de cem cópias. São, talvez, os dois filmes brasileiros mais aguardados da novíssima safra, essa que deve chegar às telas em 2003 e que ainda não foi avalizada pelo público dos festivais. Outros lançamentos nacionais também muito esperados vão estrear este ano referendados por numerosos prêmios que receberam pelo País. Durval Discos, de Anna Muylaert, foi o grande vencedor em Gramado e deve estrear em março. Amarelo Manga, de Cláudio de Assis, o vitorioso em Brasília, integra um lote de quase 20 filmes já prontos, só à espera de datas para chegar ao mercado. Doze filmes começam a ser lançados a partir deste mês e até maio. A estrela do lote é Deus É Brasileiro, farsa que o próprio diretor Cacá Diegues define como seu elogio da imperfeição. O filme fechará o mês de janeiro. O primeiro do lote, já nesta sexta-feira, é Separações, o novo Domingos de Oliveira, que segue a trilha de Amores, do mesmo diretor. Não apenas Domingos continua falando de casais, de amor, de família, como o próprio método narrativo e de produção continua o mesmo. O filme foi feito com base num espetáculo teatral do próprio Domingos e sua trupe. Foi captado em digital, custando baratinho. Mais do que o custo reduzido, o diretor prefere destacar a liberdade imensa que o digital lhe deu para ousar, criar e ser rápido. Domigos e sua equipe improvisaram bastante. E fizeram, em ambos os casos, os filmes em duas épocas. Na primeira, cenas foram dirigidas cronologicamente e montadas para exibir aos prováveis interessados. Só depois que esse material convenceu os investidores - e eles colocaram dinheiro no projeto via leis de incentivo -, a rodagem foi retomada (e finalizada). Domingos de Oliveira é o nosso François Truffaut, o nosso Woody Allen? A pergunta poderá ser respondida pelo público já a partir de sexta, dia 3, quando Separações será lançado com quatro cópias em São Paulo e três no Rio. O diretor está preocupado: "É um filme pequeno, não tem dinheiro para promover o lançamento. Vai depender, basicamente, do boca-a-boca." Ainda em janeiro está apontado para entrar em cartaz, mas dependendo de data (e salas), Narradores do Vale do Javé ou Histórias do Homem Que Pensava a Lápis, de Eliane Caffé, a talentosa diretora de Kenoma. Esqueça os nacionais em fevereiro. Não é um bom momento para se lançar a produção nacional. Em fevereiro, a Academia de Hollywood anuncia os indicados para o Oscar e os principais candidatos - os que ainda não estiverem em cartaz - começarão a entrar em circuito com todo apoio da mídia (tanto a paga quanto a espontânea, afinal, o Oscar é matéria importante para a imprensa). A preocupação com o Oscar vai até o último domingo de março, mas a diretora Ana Muylaert e a produtora Sara Silveira arriscam-se a lançar Durval Discos naquele mês. José Joffily também promete o lançamento de Dois Perdidos numa Noite Suja, sua adaptação da peça de Plínio Marcos, cuja ação ele transpôs para Nova York. Babenco prefere não arriscar e lança Carandiru só em abril. Março também promete: Tempestade Cerebral, de Hugo Carvana, O Homem do Ano, de José Henrique Fonseca, e Nelson Freire, o documentário de João Moreira Salles sobre o grande pianista, vão estar brigando por espaço com as atrações do cinemão americano. Em abril, a estrela solitária do cinema nacional nas telas de todo o País será o esperadíssimo Carandiru. E, para maio, há mais três estréias anunciadas. Seja o Que Deus Quiser, de Murilo Salles, venceu o Festival do Rio BR 2002. Desmundo é simplesmente o melhor filme de Alain Fresnot e isso é pouco para as qualidades da obra que o diretor de Trem-Fantasma, Lua Cheia e Ed Mort adaptou do romance de Ana Maria Miranda. Desmundo soma aos valores de produção, sempre sólidos em Fresnot, um rigor estético de que ele não havia dado notícia antes. E não se pode esquecer, no mesmo mês, de O Homem Que Copiava, que o próprio diretor Jorge Furtado considera um filme mais ambicioso do que sua comédia teen - bastante apreciada pelos críticos -, Houve Uma Vez Dois Verões. Todos esses filmes, na sua diversidade de temas e estilos, vão dar conta da riqueza e complexidade do cinema brasileiro nesta fase pós-consolidação da retomada. Ela fica ainda mais flagrante com uma vista d´olhos sobre os outros 18 filmes já prontos e que ainda negociam datas, completando 30 títulos já finalizados e disputando um mercado ainda formatado - apesar do avanço dos filmes brasileiros - para a produção estrangeira, leia-se Hollywood. A lista completa dessas quase duas dezenas de títulos está na tabela publicada nesta página. Quase prontos - Em finalização, há mais 50 filmes que logo também começarão a brigar por salas e datas. Apenas alguns: Os Piadistas, de Sérgio Rezende, 1972, de José Emílio Rondeau, Filme de Amor, de Júlio Bressane, Benjamin, de Monique Gardenberg, Gaijin 2, de Tizuka Yamasaki, Lost Zweig, de Sylvio Back, Viva Zapato!, de Luiz Carlos Lacerda, O Vestido, de Paulo Thiago, Noite de São João, de Sérgio Silva, Prisioneiro da Grade de Ferro, de Paulo Sacramento, 500 Almas, de Joel Pizzini, e uma série de documentários de cunho biográfico: Anselmo Duarte, de Anselmo Duarte Jr., Paulinho da Viola, de Izabel Jaguaribe, Pelé - O Atleta do Século, de Anibal Massaini, e Person, de Marina Person, sobre seu pai, o cineasta Luiz Sérgio Person. Embora todos esses filmes tenham sido produzidos na era Fernando Henrique Cardoso, chegam ao mercado no Brasil do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e há muita curiosidade em relação às diretrizes do ministro Gilberto Gil, da Cultura, para o setor. Em suas primeiras entrevistas, ele tem declarado que o objetivo da pasta não é produzir bens culturais, mas incentivar para que sejam criados. De que maneira isso vai ocorrer e no cinema, em particular, ainda é um mistério. A produtora Assunção Hernandez, que preside o Congresso do Cinema Brasileiro, está, de qualquer maneira, otimista: "Vamos lutar com afinco pelo crescimento do público nas salas convencionais", ela promete. E acrescenta: "Vamos apostar, também, na criação de um circuito alternativo."

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