PUBLICIDADE

"Arrasa-quarteirões" têm público garantido na Mostra

São os casos, nesta 30.ª Mostra Internacional de filmes como Volver, de Pedro Almodóvar e The Wind That Shakes the Barley, de Ken Loach

Por Agencia Estado
Atualização:

Toda mostra tem seus arrasa-quarteirões. Quer dizer, dentro do quadro do "cinema de arte" (se é que a expressão ainda vale), próprio de uma mostra de cinema, são títulos privilegiados, que saem na frente dos outros na disputa pela preferência do público. Ou porque ganharam algum prêmio ou foram apresentados em algum festival de grande prestígio ou, simplesmente, porque quem os dirigiu é um cineasta cult, um daqueles sobre os quais não paira a menor dúvida, um diretor de risco zero. São os casos, nesta 30.ª Mostra Internacional de filmes como Volver, de Pedro Almodóvar, The Wind That Shakes the Barley, de Ken Loach, A Comédia do Poder, de Claude Chabrol, Os Infiltrados, de Martin Scorsese, Belle Toujours, de Manoel de Oliveira. Podemos agregar ainda Hei Yan Quan, de Tsai Ming Liang, O Crocodilo, de Nanni Moretti, Still Life, de Jia Zhang-Ke, e Um Longo Caminho, de Zhang Yimou. Sobre esses filmes, pode-se dizer, com grande grau de certeza, que terão sala lotada e briga por ingressos. Nenhum deles deixa de merecer essa atenção, essa boa expectativa prévia de um público exigente. São as apostas seguras. Dentre elas, seguramente se destaca Volver, que obteve o maior número de espectadores no Festival do Rio 2006 e tem tudo para repetir a dose aqui em São Paulo. É um Almodóvar autêntico, de boa safra, embora, como digam alguns críticos (e com razão), não se alinhe entre as obras-primas do diretor. Mas como ninguém precisa apenas de obras-primas, o negócio é curtir esse filme de alma feminina, inspirado, emocionante, sincero. Penélope Cruz interpreta o papel de Raimunda, que vive com o marido e a filha e logo se vê em meio a um imbróglio familiar de conseqüências funestas. Temos aqui todo o Almodóvar - o mundo da família e das mulheres com o homem como elemento periférico; as cores fortes e a música; a paixão, desconexa e intensa; a sensibilidade tocante com que põe a mão em alguns tabus da sexualidade e da sagrada organização social. Pedro, o subversivo de coração enorme, como é bom ver seus filmes. Ao lado dele, temos o cinema político de Ken Loach com o também emocionante The Wind That Shakes de Barley. O título vem do verso de uma canção que fala do vento batendo na plantação de cevada. Ela é cantada no enterro de um jovem rebelde irlandês, assassinado pelas forças de ocupação inglesas nos anos 1920. Com isso, marca-se o início da luta pela independência da Irlanda, que Loach narra em tom épico, mas sem perder jamais a racionalidade política. Ganhou a Palma de Ouro em Cannes este ano. Também ungido pela premiação de um dos grandes festivais europeus vem Still Life, do chinês Jia Zhang-Ke, outro trabalho de alto nível. Em seu filme de ficção, mas inspirado na técnica documental, Jia fala das contradições da China contemporânea, concentrada nesse grande processo de expansão econômica que não se faz sem muitos problemas internos. No caso de Still Life mostra-se como a construção de um dique gigantesco muda alguns milênios de história e altera a vida dos habitantes desalojados da região. É preciso prestar muita atenção a esse cineasta, que já havia mostrado seu talento em obras como Plataforma e O Mundo, também esses dois belos ensaios sobre o mal-estar chinês contemporâneo. Todo mundo também vai querer conferir Os Infiltrados, o novo Scorsese que decepcionou muita gente boa, mas deve seduzir outro tanto. Novamente, a propósito dessa história de gangsterismo, se falará em violência e de como ela é estetizada no cinema contemporâneo. Enfim, é ver se o brutalismo refinado de Scorsese ainda funciona ou precisa de revisão.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.