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Aronovich grava entrevista para filme sobre Person

Marina Person, VJ da MTV e filha do cineasta, falou com fotógrafo argentino para fazer documentário sobre o cineasta paulista morto em 76

Por Agencia Estado
Atualização:

Foi um encontro sem grandes emoções, mas cheio de satisfação. Na segunda-feira passada, a jornalista e cineasta Marina Person registrou em película o depoimento do fotógrafo argentino Ricardo Aronovich, que visita o Brasil a convite da Associação Brasileira de Cinematografia para a entrega dos prêmios de melhor direção de fotografia do ano passado. A entrevista vai constar do documentário que Marina está fazendo sobre o pai, Luís Sérgio Person, um dos mais importantes diretores do cinema paulista dos anos 60 e 70. Aronovich fotografou para Person uma das obras mais belas e fortes do cinema paulista e brasileiro. Faz 36 anos que rodaram São Paulo S/A, clássico sobre a transformação da cidade provinciana em metrópole, e a influência dessa mudança na vida de algumas pessoas. Quando reviu o filme, ele ficou surpreso com a qualidade das imagens em preto-e-branco. "Como é possível eu ter feito isso?", perguntou-se. Foi uma relação quase perfeita. No depoimento, gravado no bar de um hotel no centro da cidade, Aronovich relembrou momentos da realização do filme e do relacionamento com Person. Não guardou na memória as circunstâncias do primeiro encontro com o diretor. "Só lembro de ele me ligar para saber se eu estava disponível e concordava em trabalhar no filme." Aronovich lembrou do temperamento forte de Person. Contou que chegaram a discutir uma vez, por causa da realização de uma cena externa, na entrada de uma boate no centro da cidade. Os planos seriam gravados à noite e o diretor pediu ao fotógrafo que usasse o máximo de luz natural possível. "Ele tinha muito conhecimento técnico", avalia Aronovich. "Mas, às vezes, pedia coisas impossíveis de se realizar." Apesar das discussões, tem clara a sensação de que o clima era muito bom. "À parte dos momentos em que discutíamos, foi muito gostoso fazer o filme", admite. "Além disso, essas pequenas brigas eram normais naquelas circunstâncias." Durante a entrevista, relembrou episódios isolados, como quando descobriu a utilidade do isopor como rebatedor de luz. Aconteceu no Guarujá, onde foram rodadas as cenas em que os personagens de Walmor Chagas e Darlene Glória se divertem em um fim de semana. Enquanto a equipe se preparava para filmar, Aronovich viu alguns garotos brincando com pranchas de isopor na água. Chamou um deles e examinou o material. "Achei perfeito e acabei comprando do garoto", conta. "Estou convencido de que foi a primeira vez na história do cinema que se usou isopor para rebater luz." Outra história lembrada por Aronovich foi de como resolveu o problema de filmar no interior dos carros em movimento. À época, não havia os recursos que existem hoje e a improvisação era a arma mais usada pelos técnicos. "Sei que para encontrar estabilidade, eu prendia a câmera à carcaça do carro", contou. "Assim, quando passava sobre um buraco, tudo se mexia junto e não ficava aquela coisa errada da câmera na mão." Person e Aronovich realizaram apenas um filme juntos. Logo em seguida, o fotógrafo seguiu para o Rio de Janeiro, onde trabalharia mais três anos e seguiria para a Europa. O diretor morreria prematuramente em 1976, antes de completar 40 anos, em um acidente de carro. "Gostaria muito de ter trabalhado mais com ele", disse no depoimento. "Durante as filmagens de São Paulo S/A falávamos muito sobre um projeto que nunca chegou a sair daquelas conversas; mas a vida é assim mesmo." Com a ajuda do fotógrafo José Roberto Eliezer, marido de Marina Person, foram registrados 22 minutos do depoimento de Aronovich para o documentário. Segundo a VJ da MTV, foi armado um esquema de emergência para a realização das filmagens. "Não temos dinheiro para filmar nada", disse ela. "Mas não podíamos perder essa oportunidade." Com custo de cerca de R$ 500 mil, o filme foi convertido de curta em longa por causa da grande quantidade de material colhido. Segundo a produtora Sara Silveira, a produção consumiu até agora R$ 40 mil, referentes à conquista de um prêmio para curtas-metragens do Ministério da Cultura. "Estamos recorrendo às leis para captar mais dinheiro e fazer a finalização."

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