Ele é um ator premiado com o Oscar que já fez papéis como o do serial killer canibal Hannibal Lecter, mas hoje, aos 69 anos, Anthony Hopkins diz que chegou a uma etapa nova e rebelde de sua vida, dirigindo filmes de arte de orçamento pequeno. Seu filme Slipstream, que fez sua estréia no fim de semana no Festival de Cinema Sundance, marca a estréia do ator veterano na direção e faz parte de uma seção nova de Sundance chamada "Nova Fronteira", em que arte e cinema se encontram. "Sou um rebelde, sim. Quero espetar as pessoas, não para provocar dor, mas para despertá-las", disse Hopkins à Reuters na noite de domingo. "Sinto que cheguei, que estou recomeçando. Tenho a sensação de que possa ser diretor de cinema guerrilheiro." Hopkins disse que há anos admira diretores que se arriscam com seus filmes, como John Cassavetes, Roman Polanski, Oliver Stone e Quentin Tarantino. Para ele, são diretores que gostam de misturar as coisas e colocar o cinema de massas de ponta-cabeça. Slipstream inova na técnica narrativa. O filme fala de um roteirista de Hollywood, Felix Bonhoffer (o próprio Hopkins), que começa a confundir sua própria vida com as dos personagens que cria na página. O público é conduzido numa viagem pela mente de Bonhoffer para ver fatos históricos, como a Guerra do Vietnã, que moldaram seu pensamento e, consequentemente, o pensamento dos personagens de seu roteiro. Os fatos da vida atual de Bonhoffer, como ser parado por um policial, acabam penetrando em seus escritos, e até o final do filme o público não sabe ao certo o que é realidade e o que são os pensamentos e as emoções do roteirista. Feito à sua maneira Hopkins disse que escreveu Slipstream para desafiar o público a refletir sobre a natureza do tempo e do espaço e sobre como as idéias humanas podem manifestar-se na realidade. O filme não é fácil de decifrar, porque vai e vem entre o presente e a história e entre a realidade e a ficção. "Eu estava realmente interessado em romper todas as regras do cinema", disse Hopkins. Na estréia de Slipstream diante de uma sala lotada em Sundance, o diretor do festival, Geoff Gilmore, disse ao público: "É raro chegar a assistir a uma verdadeira obra de arte" no cinema. Mas Slipstream não é o único trabalho de arte em cinema e vídeo sendo exibido no mais importante festival de cinema dos EUA, que tem o apoio do Instituto Sundance de cinema, de Robert Redford. Também na seção Nova Fronteira está sendo exibido Zidane: A 21st Century Portrait (Zidane - Um Retrato do Século 21"), em que os diretores Philippe Parreno e Douglas Gordon empregaram 17 câmeras para acompanhar o jogador Zinedine Zidane numa partida de futebol. O filme é mais do que um filme de esportes, na medida em que procura mostrar o estado de ânimo interno de Zidane, sua memória e sua percepção sensorial. O festival também está patrocinando uma instalação de videoarte intitulada Toca do Coelho da seção Nova Fronteira. Em uma das peças, Academy", o cineasta Luke Dubois usou tecnologia computadorizada digital para condensar cada um dos 75 filmes ganhadores do Oscar num filme de um minuto, conservando, porém, todos os quadros do filme original.