04 de janeiro de 2018 | 06h00
OK, é impossível fazer a crítica de um filme do qual só se viram o trailer e algumas (belas) cenas. Mas tanto a nova animação da Pixar – Viva –, como O Touro Ferdinando, que também entra neste mês de janeiro, são cativantes desde as primeiras imagens. O touro avesso à violência e que quer fugir de seu destino nas touradas. O garoto que, na Terra dos mortos, tenta se passar por esqueleto, caminhando como um, e o cachorro que lambe os beiços diante de todos aqueles ossos. Hilário!
Já que não se pode criticar o filme, pode-se pensar um pouco na animação, como um todo – como arte e mercado. Walt Disney criou um vasto império de entretenimento, a partir de personagens emblemáticos – Mickey, inicialmente Mortimer, Donald Duck. Nos anos 1950, os críticos iriam adorar bater em Disney, renegando seu sentimentalismo, mas Branca de Neve e os Sete Anões permanece como um marco, Pinóquio e Bambi são magníficos. E Disney ousou – em Fantasia, que tem fragmentos maravilhosos, e Mary Poppins, combinando animação e live action.
Por volta de 1970, e sob a inspiração dos Beatles, George Dunning fez o psicodélico Submarino Amarelo – que muita gente considera a maior animação de todos os tempos. Num visual que combina surrealismo e pop art, o próprio quarteto tenta salvar Pepperland. O resultado desloca a animação do universo infantil para o adulto, e isso torna-se frequente. Maturidade? No Japão, Hayao Miyazaki virou mito – e ganhou a Palma de Ouro, por A Viagem de Chihiro. Na França, René Laloux vislumbrou um novo mundo em Planeta Selvagem. Pode-se mesmo imaginar que James Cameron bebeu na sua fonte para Avatar. Em 1991, A Bela e a Fera fizeram história dançando no computador e logo a Pixar criava novos standards com Toy Story, em 1995, e Procurando Nemo, em 2003, até atingir a perfeição de Ratatouille, em 2007. O rato que sonhou ser chef – o tempo perdido e reencontrado do crítico que redescobre, no prato que ele criou, o sabor da infância.
Novas tecnologias a serviço da arte de contar histórias. Surgiram novos estúdios de animação – Illumination, a Blue Sky, que tem produzido as fantasias do brasileiro Carlos Saldanha, incluindo Ferdinando. A Disney comprou a Fox. O que será de nozes, os Simpsons? A família animada da Fox estabeleceu um novo patamar de crítica e animação adulta. Estamos falando de arte, de avanço tecnológico, de criatividade. Mas e o mercado? A versão live action de A Bela a Fera faturou mais de US$1 bi em todo o mundo e na sequência, faturando alto, veio outra heroína empoderada (e animada) – Moana. Meu Malvado Favorito 3 também faturou mais de US$ 1 bi em todo o mundo. Arrebentou no Brasil e na Argentina. Animação virou dinheiro – muito dinheiro em Hollywood.
No Brasil, mesmo com prestígio, animações ainda têm um campo limitado. O faturamento é externo. Não admira que tenha havido uma disputa da Disney com os exibidores, e justamente por Viva. A distribuidora, que já ganha 50% da renda, queria mais – 52%. A diferença parece pequena, mas pode virar uma fortuna. A Disney não se manifesta, mas informa que Viva entra em 610 salas, menos que outros de seus lançamentos.
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.