Andrzej Wajda vem ao Brasil para festival polonês

O mais célebre cineasta da Polônia chega domingo para uma série de eventos que traçam um panorama cultural do país

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Por Agencia Estado
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Andrzej Wajda desembarca no Brasil no domingo. Desta vez, o diretor do clássico Cinzas e Diamantes vem mesmo. Há dois anos, homenageado especial do Festival do Cinema Judaico, Wajda cancelou a vinda a São Paulo às vésperas da abertura do evento, alegando compromissos de trabalho. Desta vez, ele integra a comitiva do presidente da Polônia, Aleksander Kwasniewski, que vem para a inauguração do Festival da Cultura Polonesa. O evento será de segunda-feira até o dia 12, com apoio institucional do Sesc de São Paulo e do Rio, da embaixada da Polônia no Brasil e do consulado-geral da Polônia em São Paulo. O presidente Fernando Henrique Cardoso participa da abertura solene com seu colega polonês. Urszula Groska, que organiza o festival, destaca que, por muito tempo, quase cem anos, as circunstâncias políticas não favoreceram a aproximação da cultura brasileira com a polonesa. E ela mesma diz que isso é estranho, pois o Brasil abrigou milhares de poloneses que abandonaram seu país, fugindo do autoritarismo. Agora, durante cinco dias, o Festival de Cultura Polonesa mostrará aspectos diversificados da cultura e da arte da Polônia. Música, teatro, culinária, cinema, vídeos, moda, todas essas manifestações são contempladas pelo evento e vêm somar-se à participação da Polônia na 25.ª Bienal Internacional de São Paulo. Cerca de 50 artistas poloneses participam da programação. Wajda talvez seja o mais importante. Durante muito tempo seus filmes eram a janela para que o espectador brasileiro pudesse entender a Polônia. Com sua estética política ele marcou o cinema dos anos 70 e continuou sendo uma inspiração nos 80. Só depois veio o cinema mais intimista de Krzysztof Kieslowski, o artista que tentou radiografar a alma. Com Wajda virá agora ao Brasil a atriz de alguns de seus principais filmes: O Homem de Mármore, O Maestro e O Homem de Ferro. Krystyna Janda vai apresentar uma peça de teatro. Ainda ligada ao cinema, a programação do Festival de Cultura Polonesa confere particular importância à orquestra de cordas Aukso, que faz o concerto de abertura do evento, em presença dos dois presidentes. O programa é formado por peças de Wojchech Kilar, compositor apreciado por suas peças para cinema. Entre outras, compôs a trilha do suntuoso Drácula de Bram Stocker, de Francis Ford Coppola. É um evento caro, orçado em cerca de US$ 250 mil. Só em termos de passagens, para trazer os mais de 50 convidados, a Urszula Groska Produções está gastando mais de US$ 50 mil. Por isso mesmo, Urszula destaca a importância das parcerias com a Embraer e o Sesc, em cujas unidades (Vila Mariana, Consolação, Pompéia, Pinheiros e no CineSesc) se desenrolará o festival. Ela considera fundamental a colaboração com Anda Rottenberg. As duas conheceram-se em São Paulo há alguns anos. Há dois, passaram a trabalhar para tornar viável um festival desta magnitude. Anda é curadora junto às bienais de São Paulo, Veneza e Kassel. Convenceu Krystyna Janda a trazer sua peça ao País e ainda selecionou pessoalmente todos os filmes que compõem a mostra cinematográfica. Quis privilegiar o cinema de arte. Com a democratização da Polônia, o país se abriu para uma produção comercial que Anda preferiu ignorar. Além de obras como Pan Tadeusz, de Wajda, o público poderá conferir o trabalho de autores ainda desconhecidos, mas cujos nomes Ursula garante que vale a pena guardar para o futuro. Ela cita Krzysztof Krauze, que vem apresentar o elogiadíssimo Dívida e também ministrará, com J. Petrycki, um workshop sobre direção de cinema e fotografia nas manhãs de 8 a 12, no CineSesc. Co-produção - Polonesa radicada no Brasil, Urszula participou do movimento do cinema paulista nos anos 80, trabalhando com diretores como Chico Botelho e Djalma Limongi Batista. Sem falsa modéstia, afirma que era uma ótima diretora de produção. Lembra o curta que fez com André Sturm, "Nem Tudo que É Sonho Desmancha no Ar". Sente saudade dos sets de filmagem. Planeja uma co-produção brasileiro-polonesa, a ser filmada aqui e lá. Urszula não diz o título nem comenta o tema. Informa apenas que gostaria de contar com um diretor polonês para as cenas na Polônia e outro brasileiro para as cenas no Brasil. Admite que é um risco, mas esse é o tipo de integração que gosta de fazer. Há dois anos, no quadro dos 500 Anos do Descobrimento, ela apresentou, no Brasil e na Polônia, o espetáculo Vestido de Noiva, baseado na peça de Nelson Rodrigues. Com patrocínio do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo e com o apoio do Sesc, da embaixada da Polônia no Brasil e do consulado-geral em São Paulo, ela montou no Rio e em São Paulo a peça famosa com direção de Eduardo Tolentino de Araújo e o elenco do grupo Tapa. O próprio Tolentino montou Vestido de Noiva com elenco polonês em Varsóvia e Lodz. "Foi um choque para eles descobrir um dramaturgo da força de Nelson Rodrigues", conta Ursula. Um choque parecido ela quer produzir agora no Brasil, revelando a Polônia que o público brasileiro desconhece. Durante cinco dias, a partir de segunda-feira, São Paulo vira a capital da cultura polonesa no Brasil. Serviço - Festival da Cultura Polonesa em São Paulo. Segunda-feira (08), às 19h30, cerimônia com apresentação da Orquestra de Cordas Aukso, sob a regência de Marek Mos; terça, às 20 horas, música eletrônica com Krysztof Knittel e jazz com Tomasz Stanko, no Sesc Vila Mariana. Rua Pelotas, 141, tel. 5080-3000. Na terça, às 21 horas, encenação de A Noite de Helver, de Ingmar Villquist, R$ 10,00 a R$ 20,00, no Sesc Consolação. Rua Doutor. Vila Nova, 245, tel. 3234-3000. Quarta, às 20 horas, jazz com Zbigniew Namyslowski, no Sesc Vila Mariana. Quarta, às 21 horas, leitura dramática de A Quarta Irmã, de Janusz Glowack, R$ 4,00. Sesc Pinheiros. Avenida. Rebouças, 2.876, tel. 3815-3999. Sexta, às 20 horas, Leszek Modzer faz improvisações sobre peças de Chopin e Zbigniew Preisner, no Sesc Vila Mariana. Cinema, segunda, 89 mm para Europa. De Marcel Lozinski. Pan Tadeusz. De Andrzej Wajda. Legendas em português. Inédito no Brasil; terça, Negócios de Homem. De Slawomir Fabicki. Dívida. De Krzysztof Krauze; quarta, Afinar os Instrumentos. De Jerzy Kucia. Oi Teresa. De Robert Glinski; quinta, Longe da Janela. De Jab Jakub Kolski. O Crime e o Castigo. De Piotr Dumala; sexta, Imagem das Histórias. De Marek Skworecki. Weiser. De Wojciech Marczewski. Sempre às 13 horas, grátis, no CineSesc. Rua Augusta 2.075, tel. 3082-0213. De 12/4 a 19/5, Exposição de cartazes e vídeos (a partir de 16/4), de terça a domingo, das 11 às 20 horas, grátis, no Instituto Tomie Ohtake. Avenida Faria Lima, 201, tel. 6844-1900. Até 14/4

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