Análise: 'X-Men: Fênix Negra' aponta para o protagonismo feminino nas histórias de super-heróis

Da astúcia do ‘sexo frágil’ à prática direta do poder com as super-heroínas

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Por Luiz Zanin Oricchio
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Relembrando a frase dita pela personagem Raven/Mística ao Professor Xavier (“As mulheres estão sempre salvando os homens por aqui. Talvez você devesse mudar o nome para X-Women”), descobre-se aí a linha de chegada do protagonismo feminino nas histórias de super-heróis, do qual X-Men: Fênix Negra seria a face mais vistosa. Ou mais radical. 

Cena de 'X-Men: Fênix Negra' Foto: Fox Film

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Mas quem acompanha os filmes não ficará lá muito surpreso com esse destaque para o papel feminino. Esta é uma tendência que vem se esboçando e ganha contornos bastante nítidos. Basta pensar nas recentes Mulher Maravilha e Capitã Marvel. Há planos de colocar ainda mais mulheres no protagonismo de outras histórias da Marvel, que domina o setor. No caso das heroínas, elas já estavam disponíveis nos gibis há décadas, tanto a Mulher Maravilha quanto a Mulher Gato, Supergirl e a perigosa Elektra. Agora, ocupam o centro da cena. 

Não há por que estranhar o fenômeno. A cultura pop, apesar de baseada em mitos, jornadas do herói e condições básicas do ser humano, como o antagonismo simplista entre Bem e o Mal, reflete a mentalidade de uma época e também se adapta a ela. Com quarta onda feminista, as mulheres passaram a exigir representação de gênero mais condizente nas telas – e os blockbusters não seriam exceção a essa demanda. Mesmo porque são produtos globais, movimentam cifras de às vezes mais de um bilhão de dólares e, portanto, não podem se dar ao luxo de desagradar a clientela. Ainda mais quando essa freguesia representa um público de mais de 50% da humanidade. 

Pressionados pelas exigências da época, os estúdios prestam cada vez atenção a essas questões de gênero e também de representação racial. Para dar outro exemplo, Pantera Negra, dirigido e protagonizado por elenco negro, fez enorme sucesso mundo afora e foi celebrado como afirmação da negritude nos Estados Unidos e em vários outros países, Brasil inclusive. Além disso, passa imagem positiva da sofisticada cultura africana, em geral confinada a preconceitos de pobreza e primitivismo.

Já o poder feminino representado nas obras artísticas sempre esteve presente, mas sob a forma de uma astúcia. Se as mulheres eram em aparência mais frágeis, dominavam a arte de manobrar nos bastidores para alcançar seus objetivos. Basta lembrar da ardilosa Mme de Merteuil de Ligações Perigosas, que traça planos de conquistas amorosas com requintes de um general no campo de batalha. Ou das femmes fatales dos filmes noir, que usam seu poder de sedução para manipular homens brutos e pouco inteligentes. 

No caso de X-Men: Fênix Negra, temos a heroína Jean Grey (Sophie Turner) no exercício direto do poder, sem subterfúgios. Ela é, desde garotinha, uma superdotada, cujos talentos serão administrados pelo professor Xavier (James McAvoy). A partir de determinado acontecimento, o poder de Jean multiplica-se e torna-se virtualmente incontrolável. É o poderio feminino chegando ao máximo. A ponto de desconcertar e perturbar o resto da trupe, colocando-a em perigo. Não deixa de ser uma bela metáfora: quando o poder feminino aumenta demais, os homens, habituados ao papel de comando, perdem o rumo. E o rebolado. 

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