
14 de dezembro de 2015 | 15h15
Não é exagero dizer que a história do cinema se divide entre pré e pós-Star Wars. O filme de 1977, conhecido pelas velhas gerações aqui como Guerra nas Estrelas, mudou a indústria do cinema como um todo, do marketing aos efeitos especiais, passando pela criação do conceito de blockbuster das férias – aquilo que todo estúdio depende para fechar o ano fiscal no azul. Mas o que Star Wars fez pela ficção científica em si, o gênero em que a saga se enquadra segundo os critérios do cinema (ainda que seja mais correto chamá-la de “fantasia espacial” ou “novela espacial”)?
Até Star Wars estrear, em 1977, o cinema de ficção científica dos anos 1970 abordava o conflito do homem contra vários elementos, como o Estado (THX-1138, do próprio George Lucas), a tecnologia (Westworld – Onde Ninguém Tem Alma) e a ecologia (Corrida Silenciosa). Eram pequenos filmes cerebrais, e, ainda que necessitassem de efeitos especiais, a maioria dos estúdios estava deixando de lado o gênero e fechando seus departamentos especializados. Só a Fox, que fazia a série Planeta dos Macacos (homem contra evolução), ainda mantinha um departamento de efeitos especiais, que foi fechado ainda na pré-produção do primeiro Star Wars.
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Basicamente, todo blockbuster de férias faz parte do gênero de ficção científica, como os recentes Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros e Transformers 4 – A Era da Extinção. Sem Star Wars e a cultura que a saga criou na indústria, esse cenário seria bem diferente.
Já na literatura de ficção científica, Star Wars teve uma influência bem menor. Sua importância se deve mais aos livros que levam seu nome (a Trilogia Thrawn de Timothy Zahn, por exemplo) do que ao caminho que abriu para outras obras. É até natural: a saga é um produto audiovisual por excelência, e seu impacto aconteceu principalmente no cinema, sua seara. É bom lembrar que Star Wars surgiu em um momento de uma passagem de bastão na ficção científica literária, entre a Nova Onda e os romances brilhantes de Ursula Le Guin, Michael Moorcock e Harlan Ellison, e o movimento cyberpunk, capitaneado por William Gibson, Bruce Sterling e Pat Cadigan. Uma gente que preferiu o anti-heroísmo marginal em distopias tecnológicas do que singrar o espaço brandindo espadas de laser. Isso ficava melhor na galáxia muito, muito distante de um cinema perto de você.
*Adriano Fromer é publisher da Editora Aleph. / Colaborou André Gordirro
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