Análise: Montagem de 'West Side Story' no palco soava extravagante para sua época

Tudo ali era novo: a música era empolgante, mas não exatamente aderente a uma primeira audição. As letras eram talvez de uma poesia muito sofisticada

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Por Claudio Botelho 
2 min de leitura

West Side Story estreou na Broadway em 1957. Era o resultado do trabalho obsessivo de mais de cinco anos tocado por quatro artistas gigantes, cada qual na sua área: Leonard Bernstein (música), Stephen Sondheim (letras), Arthur Laurents (texto) e Jerome Robbins (coreógrafo). 

Natalie Wood como Maria e Richard Beymer como Tony eu uma cena de 'Amor, Sublime Amor', de1961. Foto: REUTERS/Courtesy 20th Century Fox Home Entertainment/Handout

Foi um sucesso mediano apenas de público. Tudo ali era novo: a música era empolgante, mas não exatamente aderente a uma primeira audição. As letras eram talvez de uma poesia muito sofisticada. 

O libreto, uma adaptação de Romeu e Julieta, mas repleta de citações demasiado sutis ao original, além de transportar os personagens elisabetanos para a realidade das gangues de rua da Nova York dos anos 1950, o que soava extravagante demais para aquele tempo. E finalmente, a coreografia era de um realismo jamais visto em cena - as danças eram brigas corporais sem os adocicados efeitos de balé clássico, sem concessões e facilitações para que os bailarinos pudessem sair vivos e ainda cantarem a complexa partitura de Bernstein. Os críticos louvaram, premiaram. O público, só quatro anos depois, com o filme.

Experiência

O longa dirigido por Robert Wise é definitivo para que hoje tenhamos a certeza de que West Side Story é um dos maiores clássicos do mundo do entretenimento do século 20. Wise, diretor de vasta experiência em filmes de ação, comédia, drama, nunca tinha se aproximado dos musicais. No entanto, sua sabedoria foi deixar que tudo no set fosse encenado, concebido, projetado por Jerome Robbins, o coreógrafo original.

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O que está no filme original de 1961 é alma de Jerome Robbins, que trazia em si a combinação das almas de Bernstein/Sondheim/Laurents, que, por sua vez - e essa é a genialidade do diretor -, foi captada pelas lentes da alma de Robert Wise, o Deus ex-machina por cima daquilo tudo. Filmou, embrulhou, e deu ao mundo o que é conhecido como “o mais importante musical de todos os tempos”. E finalmente West Side Story se tornou um sucesso mundial, algo nunca superado por qualquer outro filme do gênero.

Não nos enganemos - o teatro e a música que ganham estatura de obra-prima não são brinquedo para inventores de moda. West Side Story é assunto para profissionais.

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