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Análise: Em 'Alien: Covenant', uma impressionante mistura de ousadia e banalidade

O visual continua impressionante, talvez seja até mais elaborado, mas o clima está mais para 'Prometheus', de 2012

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:
Cena do filme Alien: Convenant, de Ridley Scott, com Michael Fassbender Foto: Fox Film

Há um revival das mais famosas criações de ficção científica de Ridley Scott por volta de 1980. Estreia o novo Alien: Covenant, que ele próprio dirige, e mais para o fim do ano será a vez do remake de Blade Runner, assinado por Denis Villeneuve. Sobre Alien, o visual continua impressionante, talvez seja até mais elaborado, mas o clima está mais para Prometheus, de 2012, que para o original de 1979. Recapitulando. Dois anos depois de Guerra nas Estrelas - a marca Star Wars estabeleceu-se depois -, Scott provocou verdadeira revolução, da ficção científica e do terror, ao retornar à fonte dos filmes B de ameaça do espaço dos anos 1950. Gerou um monstro no ventre do homem, criou uma heroína protofeminista - a oficial Ripley/Sigourney Weaver. Foi um acontecimento.

Alien: Covenant começa meio Blade Runner - o encontro de David, o robô, com seu criador. Prossegue como uma coisa de cinema, sem vínculo com a realidade - em 2014, uma nave gigantesca, carregando mais de 2 mil colonos, ruma para um planeta distante. No caminho, a tripulação é atraída para outra localização no espaço, exatamente como no 1. O primeiro alien demora uns bons 40 minutos para aparecer - num filme de duas horas. O espírito é mais Prometheus, e o conflito principal é mais de Michael Fassbender consigo mesmo. Desconfie desses robôs, tão perfeitos que, como os replicantes (de Blade Runner), podem confundir e se passar por humanos. Não Walter, o outro robô, que sabe o que é. Em 40 anos de carreira, iniciada exatamente com o sucesso de Os Duelistas, que adaptou de Joseph Conrad, no Festival de Cannes de 1977, Ridley Scott tem sido o mais desconcertante dos cineastas. Brilhante criador de mundos, ele pode ser, ao mesmo tempo, visionário e banal. O grupo desviado da rota chega ao planeta inesperado. Explora sua natureza. O que é isso? Uma espécie de nave? O diálogo muitas vezes é de uma platitude que choca, principalmente se comparado ao grau de elaboração formal/visual. Há uma rápida substituição/desestabilização do comandante da nave para que a nova Ripley - Katherine Waterston, de Animais Fantásticos e Onde Habitam, e ela se chama Daniels -, assuma o controle da situação. Os robôs discutem entre si os avanços do período, mas o aspecto mais relevante da nova produção é a desconfiança do autor em relação ao feminismo de sua heroína. Daniels não é nenhuma Ripley e vai com o filme - olha o spoiler - para uma armadilha, fornecendo o álibi para a sequência que fica em aberto.

Cena do filme Alien: Convenant, de Ridley Scott, com Michael Fassbender Foto: Fox Film
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