Análise: Diretora de 'Agnus Dei' conduz tema da violência sexual com sensibilidade

A cineasta Anne Fontaine não banaliza nem torna solene o drama feminino da 2ª Guerra Mundial

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Por Luiz Zanin Oricchio
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Bem, eis a guerra de novo. A 2.ª Guerra Mundial, que parece nunca deixar de produzir material novo para ficção ou análise, tamanha a dimensão do conflito e sua importância para a História contemporânea. São sempre tramas de violência, de grandeza e de abjeção. Com Agnus Dei (Les Innocentes, no original), surge um dos aspectos mais negligenciados pela historiografia oficial – a violência sexual contra as mulheres. O cinema não a ignorou: basta lembrar de Duas Mulheres (La Ciociara), de Vittorio De Sica, de 1960, baseado em romance de Alberto Moravia. 

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Mas em Agnus Dei, de Anne Fontaine, essa violência toma contornos e conotação diferentes. Surge quando uma jovem enfermeira francesa da Cruz Vermelha, Mathilde (Lou de Laâge), é chamada por uma freira de um convento próximo para prestar socorro. Estamos no imediato pós-guerra e na Polônia. Mathilde descobre que o motivo da emergência é uma noviça prestes a dar à luz. Descobre uma terrível realidade: as freiras do convento polonês haviam sido estupradas várias vezes por integrantes do Exército Vermelho. Algumas estavam grávidas. Todas temiam a volta dos soldados.

Anne conduz o tema pesado com sensibilidade feminina e sobriedade, produzindo um drama sólido, tocante. Ano passado, vimos da mesma cineasta um trabalho de leveza e exuberância como Gemma Bovery, releitura livre de Madame Bovary, de Flaubert. No ambiente pesado de Agnus Dei ela se comporta com igual maturidade e rigor cinematográfico. Não banaliza jamais nem torna solene em excesso seu assunto e suas personagens. Dá-lhes justa dimensão humana, contando, além de Lou de Laâge, com um elenco feminino polonês digno de nota: Agata Buzek, Agata Kulesza, Joanna Kullig.

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