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Análise: Ambientado nos anos 1970, 'Infiltrado na Klan' quer falar do racismo presente

É significativo que o filme chegue a público justamente neste ano em que Jordan Peele fez história na Academia com Corra!

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Havia a expectativa em Cannes, em maio, que o júri presidido por Cate Blanchett corrigisse uma injustiça histórica e atribuísse a Spike Lee a Palma de Ouro que, por duas vezes, ele esteve prestes a receber, nos anos de Faça a Coisa Certa e Febre na Selva. No final, o júri elegeu o japonês Hirokzau Kore-eda, que já fez coisas muito melhores que Shoplifters. Spike Lee recebeu o Grande Prêmio do Júri por BlackKklansman. Com o título brasileiro de Infiltrado na Klan, o Spike Lee tem feito grandes filmes para debater a questão do racismo na sociedade dos EUA. Chegou a fazer a cinebiografia de Malcolm X, interpretado por Denzel Washington. BlackKklansman baseia-se agora em outra história real, mas que parece tão absurda que o espectador pode até pensar que se trata da mais delirante ficção. Nos anos 1970, no racista Sul dos EUA, em Colorado Springs, o sonho do afro-americano Ron é ser policial. Transferido para o arquivo, ele recebe uma missão “secreta”, como agente infiltrado.

Cena de 'Infiltrado na Klan Foto: David Lee/Focus Features

A organização em que Ron se infiltra é nada menos que a Ku Klux Klan, a KKK, cujos integrantes, protegidos por túnicas brancas, não fazem outra coisa senão perseguir - e matar - negros. Fazendo-se passar por wasp, branco, anglo-saxão e protestante, Ron consegue penetrar nos segredos da KKK. Chega a ganhar a confiança dos principais dirigentes da organização, e tem como aliado um policial judeu (Adam Driver) que serve de camuflagem para Ron. Toda essa atividade “encoberta” envolve um atentado a bomba que termina por expor a tramoia toda. Ron vira herói e escreve um livro que expõe a KKK ao ridículo. É significativo que o filme chegue a público justamente neste ano em que Jordan Peele fez história na Academia com Corra! Ao recuperar o episódio, inclusive recriando uma estética do cinema norte-americano dos anos 1970, na época blaxploitation movies, Spike Lee incorpora ao material imagens emprestadas a clássicos racistas como O Nascimento de Uma Nação, de D. W. Griffith, e ...E O Vento Levou, de Victor Fleming. É claro que o objetivo de Lee é expor a “América” racista do atual presidente, Donald Trump. Não por acaso, na coletiva de Cannes ele lembrou as brutais ocorrências de Charlottesville, no ano passado. Trump é o novo inimigo da representatividade e do integracionismo raciais. Não apenas pela provocação política, mas também pela excelência artística, BackKklansman foi uma das unanimidades de Cannes. Foram oito minutos de aplausos de pé, para Spike Lee e sua equipe. Só faltou a Palma para coroar o filme.  

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