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Análise: 'Abaixo a Gravidade' é um apelo de leveza e amor, em tempos de peso e morte

'Abaixo da Gravidade', de Edgard Navarro, está em cartaz nos cinemas

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Há uma busca de leveza no cinema de Edgard Navarro. Em seu média-metragem O SuperOutro (citado em canção de Caetano Veloso, Cinema Novo), o personagem principal, vivido por Bertrand Duarte, alça voo do alto do Elevador Lacerda. Em Abaixo a Gravidade, essa ideia ganha peso – não fosse a contradição em termos.

O ator Everaldo Pontes em 'Abaixo a Gravidade' Foto: Truques Produtora de Cinema

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O personagem principal é interpretado por Everaldo Pontes (o São Jerônimo do filme de Julio Bressane). Ele é Bené, velho sábio que vive na Chapada Diamantina. Um dia ele conhece Letícia (Rita Carelli), jovem grávida que, logo após o parto, volta para Salvador. A pretexto de tratar a saúde (a próstata), Bené também viaja a Salvador e procura pela moça. Acaba conhecendo a irmã bipolar de Letícia, Malu, e outros personagens, como o anarquista Galego (Ramon Vane).

Talvez haja um diálogo de contrários entre esse filme e Melancolia, de Lars von Trier. Na obra do dinamarquês, um planeta vai se chocar contra a Terra e isso significará o fim da humanidade. Na do diretor baiano, um asteroide chamado Laetitia passa perto do planeta e ocasiona perda de gravidade na região da Baía de Todos os Santos. No dinamarquês, o peso, sob o signo de Tânatos, a morte. No brasileiro, a leveza, sob inspiração de Eros, o amor. Navarro filma com extraordinária fluência e originalidade. É assim em seus trabalhos mais “noturnos”, como O Homem que Não Dormia (2011), quanto nos mais solares, como Eu me Lembro (2005) e neste Abaixo a Gravidade. Um cinema fora do esquadro, no melhor sentido do termo.

Há nele o ‘parti pris’ pelos outsiders, pelos que não se alinham ao conformismo capitalista, e também diálogo com o cinema dito “marginal”, com referências escatológicas ou primais. Mais do que no plano do raciocínio lógico, é no do instinto que esse cinema se desenvolve. Neste mundo murcho do conformismo, o cinema de Navarro é radicalmente juvenil e rebelde, ainda que seu autor beire os 70 anos. Imprescindível.

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