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Amor e consumo são os temas de <i>Proibido Proibir</i>

Filme de Jorge Durán que traz Caio Blat em triângulo amoroso estréia sexta

Por Agencia Estado
Atualização:

Havia 20 anos que Jorge Durán não filmava. Após a enxurrada de elogios e prêmios que recebeu por A Cor do Seu Destino, em 1986, o mais chileno dos diretores brasileiros ficou quatro ou cinco anos gestando um outro projeto Quando estava prestes a realizá-lo, o ex-presidente Fernando Collor de Mello fez todas as suas diatribes na área da economia e da cultura. O cinema brasileiro entrou num buraco negro e a carreira de Jorge Durán, também. Ele ressurge agora com Proibido Proibir. Valeu a espera. O filme é ótimo. Mais animador, ainda, é saber que Durán promete iniciar, até o fim do ano, a rodagem do novo filme. Gabriel, título original, passa-se em São Paulo. Por sugestão de Cacá Diegues, cuja empresa Luz Mágica associou-se a Durán no projeto, Gabriel foi rebatizado como Não se Pode Viver sem Amor. É um romântico esse Cacá Diegues. Depois de O Maior Amor do Mundo (pela vida), ele insiste em que não se pode viver sem amor. Desde a première no Festival do Rio, no ano passado, Proibido Proibir vem fazendo carreira em festivais nacionais e principalmente, internacionais. Ganhou prêmios em Havana, em Huelva. No festival espanhol, foi o melhor filme de diretor estreante, já que a categoria contempla não apenas primeiros, mas também segundos filmes. Aos 64 anos, ganhar um prêmio de diretor estreante diverte Durán. Mas, agora, acabou. Contra estereótipo "Vou ter de encarar minha fase adulta", ele diz - e ri. É curioso, mas a juventude atrai o autor. Ele é o primeiro a estabelecer diferenças entre o seu primeiro e o segundo filme, mas ambos tratam de jovens. O terceiro será, de novo, de jovens, mas agora numa faixa de 30 anos. O tempo não pára, nem para os personagens de Durán. Em A Cor do Seu Destino, o diretor de origem chilena estava preocupado em falar sobre a lembrança, até para dar um testemunho geracional sobre o que ocorreu no Chile, após o golpe do general Pinochet. Em Proibido Proibir, a preocupação é outra. Durán agora quer falar de comportamentos. Seu filme vai contra um estereótipo. A juventude atual é alienada e consumista não por culpa própria, é clara, mas porque no mundo globalizado a garotada é confrontada com um mundo competitivo como nunca e também porque a única liberdade de que as pessoas têm - aí é geral, não está ligado a nenhuma faixa etária - é a de consumir. Os jovens de Proibido Proibir são confrontados com a realidade e a necessidade de tomar partido, ou decisões. O fim parece inconclusivo, mas não é. "Eles tomam suas decisões, só não sabemos aonde vão levá-las", argumenta o diretor. Triângulo amoroso A história é a de um triângulo amoroso. Dois rapazes e uma moça, todos universitários. O fato não é irrelevante. Durán queria fazer um filme sobre a universidade, como espaço da formação individual e coletiva. Fez um filme em três capítulos, não três atos, mostrando como seus jovens se relacionam entre si e com o mundo e como a própria realidade os força a tomar consciência (esta palavra tão desgastada e que talvez pertença a um jargão de esquerda dos anos 60 e 70). Mas, enfim, é um filme sobre triângulo amoroso. Sendo os personagens dois homens e uma mulher - dois garotos e uma garota -, a associação que os críticos vêm fazendo é com o cult Jules et Jim, de François Truffaut, que, nos anos 60, foi lançado nos cinemas brasileiros com o título de Uma Mulher para Dois. Durán renega a proximidade. Nunca pensou em Jules e Jim nem acha que Truffaut tenha a propriedade dos triângulos amorosos. Durán tinha 20 e poucos anos quando assistiu a Jules e Jim. Não é um de seus Truffauts preferidos. Prefere Os Incompreendidos, O Garoto Selvagem, O Último Metrô e A Mulher do Lado. Mas ele, mesmo rejeitando-a, entende a aproximação. Seu filme também fala do amor como oposição entre o gesto impulsivo e a palavra consciente. Os rapazes amam a garota mas o sentimento ameaça comprometer a amizade. É uma relação muitas vezes sofrida, por mais jubiloso que seja o sentimento Amoroso. Distante, há anos, da direção, Durán terminou atendendo ao pedido de amigos, que o impulsionaram a inscrever um projeto num concurso de baixo orçamento. Tudo começou assim e o renitente Durán, que foi sendo empurrado para o projeto, terminou absorvido por ele - e pelos personagens. Desde o início, seu triângulo era birracial. Um dos rapazes é negro. Durán sabia que a escolha do elenco era essencial. Sua proposta inicial era filmar com desconhecidos. Se errasse nos atores, tudo poderia ficar comprometido. Afinal, um filme de baixo orçamento tem de ser rodado rapidamente. Qualquer entrave seria Desastroso. Elenco Durán direcionou-se para atores profissionais. Selecionou Caio Blat, Alexandre Rodrigues e Maria Flor. São todos ótimos. Durán, ao contrário da maioria dos diretores brasileiros atuais, que trabalha com preparadores de elenco, prefere ele próprio fazer o trabalho. "Não uso nem videoassiste para acompanhar a filmagem. Comigo é no visor da câmera, diretamente. Quero olhar no olho do ator, ver como ele está reagindo", explica. Já que iam fazer grandes amigos, Caio e Alexandre lhe pediram que alugasse uma quitinete para ambos. "Foram morar juntos, para compartilhar a experiência. Acharam que seria bom para a composição dos personagens. Era uma quitinete minúscula. Nunca fui lá", explica o diretor. O resultado é muito bom. Durán não acredita no naturalismo. Existe um verdadeiro trabalho de composição de personagem em Proibido Proibir. Tudo foi feito com amor, com meticulosidade. E a ousadia? É o que exaspera o diretor. Para um cineasta que também é roteirista, acostumado a buscar a palavra exata, a simples referência à ousadia o deixa enfadado. Diga o que quiser sobre Durán, mas não diga que é ousado, nem se for para elogiá-lo (mas ele sabe que muita gente vai dizer que é muito prudente e lhe falta mais ousadia, para que seu filme seja realmente grande). "Ousadia é coisa para bombeiro. Um diretor de cinema tem de ter lógica e reflexão." E isso Durán tem de sobra. Proibido Proibir (Br-Chile/ 2006, 105 min.) - Drama. Dir. Jorge Durán. 16 anos.

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