Amber Midthunder é a face da nova heroína de ação em Hollywood

Nascida na reserva Navajo no Novo México, a atriz de 'O Predador: A Caçada' já é um acontecimento

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Por Nicolas Rapold
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Era o dia em que seria filmada uma grande luta em O Predador: A Caçada, e Amber Midthunder estava se sentindo péssima. Ela estava doente e tinha perdido a voz. A sequência exigia a ação física mais intensa do filme, com uma coreografia afinada e um final empolgante. E você precisa estar no seu melhor para enfrentar um inimigo intergaláctico que viajou até a Terra para caçar pessoas só por esporte. “Eu queria muito fazer a cena! Então simplesmente não falei com ninguém o dia todo”, disse Midthunder. “E aí a gente pensou: ‘Vamos tentar e ver o que acontece’”.

Amber Midthunder Foto: Universal

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Os nervos de aço valeram a pena. O Predador: A Caçada, dirigido por Dan Trachtenberg, estreou na sexta-feira no Hulu com uma nova versão da série de ação Predador que se passa no início do século 18 e funciona também como uma história de amadurecimento. Midthunder interpreta Naru, uma jovem comanche que precisa provar seu valor para uma tribo que a subestima.

Mas não há como subestimar a atriz de 25 anos que está assumindo o tipo de protagonismo que nem sempre é possível em Hollywood. Integrante da tribo Fort Peck Sioux, ela é uma das únicas protagonistas nativas americanas em filme de ação, encabeçando uma franquia que originalmente repousava nos ombros de Arnold Schwarzenegger.

Realizando saltos que desafiam a morte, arremessando machados com precisão e falando pouco, Midthunder atende à maioria das definições de “herói de ação”. Não que ela se sinta assim, ainda. “Eu me sinto Amber”, disse ela, bem-humorada, em entrevista na semana passada em um hotel no centro de Manhattan. Mesmo assim, a atriz – uma presença brilhante e equilibrada no seu vestido vermelho ensolarado – reconheceu que ‘O Predador: A Caçada’ é mais uma linha para um currículo cheio de ação.

Midthunder estourou com seu papel em Legião (2017-19), o alucinógeno spinoff de X-Men para a TV, estrelado por Dan Stevens, Jean Smart e Aubrey Plaza. A personagem de Midthunder compartilhava um corpo com um cientista interpretado por Bill Irwin. Longe de ser desconcertante, sua experiência na série a “solidificou” como atriz, disse ela, junto com um papel pequeno, mas inspirador, no drama texano ‘A Qualquer Custo’ (2016). Essas experiências a galvanizaram depois que ela não foi bem uma passagem anterior em uma série no estilo Nickelodeon. (Embora ela não tenha mencionado o título, soava um pouco como ‘The Misadventures of Psyche & Me’).

Seu trabalho no cinema e na televisão parece uma preparação de triatleta para os desafios de O Predador: A Caçada. Ela participou regularmente da série de ficção científica Roswell, New Mexico e interpretou uma destemida motorista de caminhão ao lado de Liam Neeson em Missão Resgate, thriller da Netflix sobre viagens de longa distância no gelo. Ela também estrelou e coproduziu um filme independente sobre dois casais, The Wheel.

Os comentários de seus colegas sugerem uma artista já experiente. Irwin, claramente fã, escreveu em e-mail para o New York Times que seu papel duplo era “a colaboração mais fácil da qual eu já fiz parte”. Neeson enviou um elogio conciso, mas definitivo: “Uma excelente jovem atriz, com uma energia que se destaca”.

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A carreira de Midthunder começou com fortes alicerces familiares. Seu pai, David Midthunder, é presença constante nas telas (Westworld, Dark Winds). Ela se lembra de visitá-lo no set de produções como Comanche Moon, uma prequela de Lonesome Dove. Ele conheceu sua mãe – diretora de elenco e ex-atriz Angelique Midthunder, que era da Tailândia – quando trabalhavam no mesmo filme.

Nascida na reserva Navajo no Novo México, Amber Midthunder cresceu em Santa Fé, Novo México, com passagens pela Califórnia e Flórida. Ela se lembra de passar as tardes no escritório de sua mãe, só para ver o entra e sai de atores e atrizes. “Eu tinha uma barraca de princesa da Disney com um colchão de ar no fundo, presente de aniversário de oito anos”, ela lembrou. “Eu deveria estar fazendo minha lição de casa, mas ficava dando pitacos”.

O pai de Midthunder tentou dar alguma perspectiva sobre as imagens de nativos americanos apresentadas pela cultura dominante. Membro registrado do Fort Peck Sioux, ele passara grande parte da infância na reserva. Seu pai trabalhava para o Departamento de Assuntos Indígenas, ajudando os membros da tribo com as burocracias.

“Meu pai fez questão de me mostrar como a mídia retrata os nativos desde muito tempo”, disse ela. O Predador: A Caçada apresenta um elenco majoritariamente nativo – entre eles um extraordinário estreante, Dakota Beavers, como irmão de Naru – e um produtor, Jhane Myers, que é comanche e deu vários conselhos para a produção. Esses esforços de representação e autenticidade impressionaram Midthunder.

“Nos filmes de época, muitas vezes nos resumimos a uma figura hiperespiritualizada ou uma caricatura violenta e selvagem”, disse ela. “Isso machuca quando você quase nunca vê alguém que se pareça com você ou represente você. Faz algo com sua psique, e você se pergunta, tipo, ‘Oh, nós não somos bons o suficiente? Ou é só o jeito como as pessoas nos veem’”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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