"Alô, Alô, Carnaval" volta ao cartaz

Carmem Miranda, Mario Reis, Francisco Alves e Lamartine Babo estão nessa comédia dos anos 30 que reestréia após uma cuidadosa restauração

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Por Agencia Estado
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Será uma reestréia suada a de Alô, Alô, Carnaval amanhã à noite no Sesc Ipiranga. Depois de dois anos de cuidadosa restauração, um dos maiores sucessos do cinema brasileiro da década de 30 finalmente terá sua noite de gala em São Paulo. Dificilmente repetirá a sensação provocada nas centenas de pessoas que se aglomeravam na porta do Cine Alhambra, no Rio, na meia-noite do dia 15 de janeiro de 1936, quando foi exibido pela primeira vez. Mesmo assim assistir a essa produção da Cinédia - que entra em seguida no Espaço Unibanco - dirigida por Adhemar Gonzaga será um reencontro nostálgico para os mais velhos e uma surpresa para os jovens. A última vez em que ela foi exibida foi em 1974, após um trabalho de recuperação menos cuidadoso, que fez Adhemar Gonzaga não concordar com a anexação de algumas cenas. Dessa vez é diferente. Alice Gonzaga, filha do diretor, além de ter restaurado os 67 minutos do celulóide original, acrescentou mais oito, recomendados pelo próprio pai antes de morrer. Se com o passar dos anos Alô, Alô, Carnaval se transformou em um clássico cultuadíssimo, mas raramente visto, em 1936 o filme revelou ao Brasil a cara de alguns dos mais famosos cantores do País. Gonzaga conseguiu reunir nos estúdios da Cinédia, em São Cristóvão, Estado do Rio, Carmen e Aurora Miranda, Mario Reis, Francisco Alves, Almirante, Lamartine Babo, Dircinha Baptista e o Bando da Lua, entre outros, e filmou um videoclipe avant la lettre. Além disso, antecipou em quase uma década o gênero de maior sucesso popular do cinema brasileiro, a chanchada. A idéia inicial de produzir um filme com os astros do rádio partiu de Wallace Downey em 1935. Ele próprio começou a filmar sob o título de O Grande Cassino, com argumento de Alberto Ribeiro e João de Barro. No meio da produção, uma viagem obrigou-o a passar a direção para Gonzaga. Com um roteiro ingênuo nas mãos, o diretor recheou a produção com os nomes mais famosos da música popular da época. Assim, enquanto dois aventureiros cariocas interpretados por Pinto Filho e Barbosa Júnior tentam convencer o dono do Cassino Mosca Azul (vivido pelo ótimo Jaime Costa) a produzir uma revista (gênero musical famoso na época), desfilam pelo palco do cassino com cenários de J. Carlos, os bambas das marchinhas e sambas do período. As câmeras permaneciam paradas enquanto os artistas dublavam as canções. Muitas cenas se tornaram antológicas e um dos raros registros visuais de lendas da música popular. Uma delas mostra Lamartine Babo, que aparece ao lado de Almirante cantando a engraçadíssima As Armas e os Barões, paródia de Lalá do épico de Camões. Foi em Alô, Alô, Carnaval que Carmen Miranda protagonizou sua mais importante cena pré-hollywoodiana. Ao lado da irmã, Aurora, e trajada com uma escandalosa calça justa e camisa listrada, a cantora eternizou a marcha Cantores do Rádio. O musical também registrou um dos maiores sucessos da época, hoje completamente esquecido: o sambista carioca Luís Barbosa, o inventor da percussão no chapéu de palha e de quem João Rubinato retirou o sobrenome para criar o pseudônimo Adoniran Barbosa. A restauração e exibição de Alô, Alô, Carnaval - que custou R$ 270 mil e contou com patrocínio da Petrobrás Distribuidora -, ao lado de O Ébrio, é o início de um projeto de Alice Gonzaga de recuperar o rico acervo da Cinédia. Alice promete agora lançar a comédia musical em DVD. Alô, Alô, Carnaval, pré-estréia, amanhã, no Sesc Ipiranga, com presenças de Alice Gonzaga e Maria Alcina, cantando as músicas da trilha, r. Bom Pastor, 822, Ipiranga, tel.: 3340-2000. E a partir do dia 7, no Espaço Unibanco, horário e sala ainda não definidos.

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