"Alô, Alô Carnaval" reestréia após 8 meses de restauro

Francisco Alves, Lamartine Babo e Carmem Miranda, entre outros grandes nomes da música brasileira, estão neste clássico de Adhemar Gonzaga, lançado em 1936

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Em 1936, quando ninguém pensava em clipes para vender música, o cineasta Adhemar Gonzaga usou o cinema para mostrar ao público a cara dos cantores de rádio que enfeitiçavam o País. Assim nasceu Alô, Alô Carnaval, que reestréia amanhã no cinema Odeon, no Rio (e em 6 de junho, no Sesc Ipiranga, em São Paulo), após oito meses de restauração, ao custo de R$ 270 mil, bancados pela BR-Distribuidora. O filme é um catálogo de nossa melhor música numa época em que os cassinos produziam grandes espetáculos. E foi rodado como se fosse uma revista, com um fio de história e números musicais à vontade, que deliciam o público até hoje, 66 anos depois de sua estréia. Todo mundo que fez história na música popular passou pelo set de Alô, Alô Carnaval: Lamartine Babo e Almirante (talvez na única imagem em movimento dos dois), Dircinha Batista pré-adolescente, Francisco Alves e as irmãs Aurora e Carmem Miranda (antes de ir para os Estados Unidos e virar caricatura de si mesma) numa antológica interpretação de Os Cantores do Rádio, que faz sucesso até hoje quando reprisada na televisão. Todos diante cenários de Nássara e J. Carlos, que trouxeram para o estúdio o que criavam para os palcos do Cassino da Urca. Até a ausência de Aracy de Almeida ficou na história. Dizem que ela se recusou a participar cantando Palpite Infeliz, de Noel Rosa, porque estaria caracterizada de lavadeira, enquanto outras cantoras apareciam glamourosas. Alô, Alô Carnaval foi um dos 50 filmes que Adhemar Gonzaga produziu para a Cinédia, mas só metade deles ficou até hoje e mesmo assim corre o risco de se perder. A filha dele, Alice Gonzaga, luta para manter esse acervo e restaurá-lo, mas reconhece as dificuldades. "Custa caro e, até pouco tempo atrás não estava previsto nas leis de incentivo à cultura. É preciso pesquisar roteiros, montagens diversas do filme e recuperar o som e a imagem", explica ela. "No caso de Alô, Alô, havia um problema extra porque os fotogramas eram quadrados e os projetores atuais são retangulares." Nada disso desanimou Alice, que já havia restaurado O Ébrio, clássico com Vicente Celestino, e tem planos para outras produções, pois sabe o valor dos filmes. "Alô, Alô Carnaval criou uma linguagem popular que desaguaria na chanchada. É a primeira afirmação da cultura brasileira, satirizando o que vinha de fora", diz. "Agora, a meta é restaurar Bonequinha de Seda, Batucada em Berlim (onde pela primeira vez se filmou uma escola de samba, a Mangueira) Um Pinguinho de Gente e 24 horas de Sonho, na época, uma superprodução."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.