'Alice Através do Espelho' aposta na leveza cômica

Sem Tim Burton, sequência do clássico, que estreia nos cinemas brasileiros, é assinada pelo diretor James Bobin

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Por Mariane Morisawa
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LOS ANGELES - Em Hollywood, seis anos entre o filme original e sua sequência é uma eternidade. Mas foi esse o intervalo entre Alice no País das Maravilhas (2010) e Alice Através do Espelho, que estreia nesta quinta-feira, 26, no Brasil. O primeiro cruzou a barreira de US$ 1 bilhão e provou que uma produção com uma garota como protagonista podia ser um sucesso. “Não fizemos ‘Alice’ achando que ia ter o segundo”, disse a produtora Suzanne Todd em entrevista ao Estado, em Los Angeles. “Apesar de Lewis Carroll ter escrito dois livros, não era como ‘Harry Potter’. O primeiro surgiu como uma ideia pequena sobre empoderamento feminino, mas a entrada de Tim Burton e depois de Johnny Depp acabou tornando o projeto maior.”

Pouco fã de sequências, Tim Burton não voltou para o segundo longa, que ficou a cargo do inglês James Bobin (de Os Muppets e Muppets 2 – Procurados e Amados). Para o novo diretor, foi um desafio triplo. “Tendo crescido na Inglaterra, ‘Alice’ é algo que fez parte da minha vida. O livro está na casa dos avós, dos pais, na sua... É uma instituição”, contou. Fora isso, ele estava pegando um trabalho já começado por ninguém menos que Tim Burton. “Você acaba sendo fiel ao mundo previamente criado, mas também quer deixar sua marca”, disse Bobin. “A sorte é que nosso filme envolve viagem no tempo e o primeiro também não explorou toda a geografia do lugar.” Burton é produtor executivo, e Bobin afirmou ter conversado bastante com ele. Para completar, Alice Através do Espelho era difícil de adaptar, com sua estrutura fragmentada. “É bem parecido com um sonho, algo interessante para um livro, mas complicado para o cinema. Para mim, o importante foi manter a gramática, o mundo, mas usando os personagens que amamos do longa de Tim Burton.”

A atriz Mia Wasikowska em 'Alice Através do Espelho' Foto: Peter Mountain|Disney|AP

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A Alice que aparece em Alice Através do Espelho é diferente da garota do filme anterior. Ela viajou o mundo como capitã de um navio e, de volta à Inglaterra, fica chocada com o que se espera dela – basicamente, casar e ter filhos. “Para mim trata-se de uma história sobre o conflito entre gerações”, disse Bobin. “Alice representa uma nova geração de mulheres na época. A menina que inspirou a personagem, Alice Liddell, nasceu na mesma década de Emmeline Pankhurst, líder do movimento sufragista.” Para Mia Wasikowska, Alice tem mais o que fazer desta vez. “É um papel difícil, porque ela está cercada de personagens excêntricos e empolgantes e precisa ser a âncora. Aqui houve mais espaço para mostrar sua individualidade e seu senso de humor peculiar.”

O Chapeleiro Maluco de Johnny Depp também passa por um momento difícil: quando Alice volta a Wonderland, ele perdeu sua “maluquice”. A única maneira de recuperá-la, segundo a Rainha Branca (Anne Hathaway), é usar a “Cronosfera”, que permite viajar no tempo. Mas quem guarda o objeto é o Tempo em forma de pessoa. “Achei uma grande ideia criar esse personagem, porque, se você vai viajar no tempo, é natural que peça permissão, algo muito inglês, muito educado”, afirmou Bobin. “Mas não queria que ele fosse um vilão clássico. Era mais interessante que fosse um bufão que se acha importante.” Quem melhor para interpretar o papel do idiota autoconfiante do que Sacha Baron Cohen? “Ele é perfeito para fazer alguém que se acha superior, mas que todo o mundo sabe que não é”, disse o diretor. A escalação de Baron Cohen (de Borat), combinada com a escolha de um diretor conhecido por comédias, tiveram um impacto no tom de Alice Através do Espelho. “Espero que os fãs gostem porque trouxe uma leveza cômica que sempre usei em meus trabalhos anteriores.”

Johnny Depp e Mia Wasikowska no 'Alice' de James Bobin Foto: Peter Mountain|Disney|AP

ENTREVISTA, Mia Wasikowska, atriz

Quanto você acredita que mudou seu papel em relação ao primeiro filme? A principal mudança provavelmente é que agora entendo onde estou me metendo. No primeiro filme, eu era um tanto nova na indústria cinematográfica americana. Trabalhar em um estúdio coberto de verde era novidade para mim. Desta vez, eu já sabia o que esperar. No primeiro longa, Alice também é uma personagem incomodada, esquisita, insegura de si mesma. Aqui, ela já passou um ano viajando pelo mundo, sendo capitã de um navio, então está extremamente empoderada e sabe quem é.

Na sua opinião, como Alice se encaixa nas discussões atuais sobre papéis femininos em Hollywood? É bacana porque se trata de um filme para jovens, em geral. Ela volta de uma viagem pelo mundo em que foi capitã de um navio e fica horrorizada quando, de volta à sua casa, as expectativas em relação a ela são ainda tão pequenas. Fazer uma sátira sobre isso é ótimo, porque dá para perceber claramente como era ridícula a lógica dessa época. É ótimo também ter uma mulher jovem tão empoderada, segura de si, como protagonista de um filme que muitos jovens vão ver.

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Se você pudesse viajar no tempo, o que faria? Eu certamente me tornaria um bebê por alguns dias, só para ter alguém cuidando de mim o tempo todo, sem nenhuma responsabilidade! (risos)

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