'Alguém Qualquer' promove discurso sobre o homem comum

Longa seduziu críticos e plateias no exterior

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Seu nome é Tristan Aronovich, mas pesquisando na internet você descobre que se trata de um nome artístico, de fantasia, e na verdade ele se chama Tiaraju. É o diretor de Alguém Qualquer, nacional em cartaz desde a semana passada. No cartaz, impressiona a quantidade de prêmios que o filme recebeu no exterior, entre eles o de melhor longa no Festival Beloit e o escolha do curador em Boston. Só para você saber, o Beloit ganha cada vez mais prestígio e já supera Sundance como verdadeira vitrine da produção independente, nos EUA e no mundo.

O próprio Aronovich faz o protagonista - Zé. O título ‘alguém qualquer’ tem a mesma conotação de Zé-ninguém. O filme é sobre um anônimo que se divide entre a função de faxineiro de um prédio e o gosto pela restauração de palha. Poderia chamar-se Macabeu, e aí ficaria mais evidente que Zé é a versão masculina da personagem de Clarice Lispector em A Hora da Estrela, que virou filme (belo) de Suzana Amaral. Macabéa.

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É curioso, mas A Hora da Estrela também fez carreira internacional e até valeu a Marcélia Cartaxo o prêmio de melhor atriz em Berlim. Zé é um tipo silencioso. Quase não fala. É totalmente devotado ao trabalho, e vai reiterar essa vocação (característica?) em várias oportunidades. Mas algo ocorre. Zé não apenas acolhe em casa uma parente distante que vem fazer um curso de secretariado na cidade grande. Ele também tem uma queda - sofre uma vertigem no serviço - e descobre que está com os dias contados.

Por causa do coração fraco, um problema congênito, Zé tem apenas seis meses de vida. A parente, ao saber disso, perturba-se. Sensível e dotada de temperamento artístico, ela não se intimida com a singeleza do parente. Aceita que ele seja simplório, mas resolve introduzir um pouco de vida em sua mecânica diária (casa/trabalho, trabalho/casa). Um piquenique aqui, um churrasco ali, uma ida ao zoo, A vida de Zé muda. Muda tanto que a parente e ele chegam a ter uma relação. Ela... Veja para entrar nos detalhes.

Realizado sem renúncia fiscal - e com o patrocínio de uma entidade identificada como Latin American Film Institute -, Alguém Qualquer ganhou um circuito pequeno, mas em boas salas da Reserva Cultural e do Espaço Augusta. Sem dinheiro para investir no lançamento, o filme aposta no boca a boca. Havia pouca gente no domingo à noite, no Frei Caneca. A reduzida plateia ria muito, o que não é a melhor reação diante de um drama intenso. O problema de Alguém Qualquer é ser tosco demais. Aronovich faz tudo - atua, escreve, dirige, fotografa, compõe a música. Digno de Charles Chaplin. O próprio personagem tem algo do patético chapliniano. Com um pouco mais de elaboração, poderia ser verdadeiramente tocante.

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