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Alê Abreu prepara novo filme de animação

Criador da primeira animação brasileira finalizada em computador, Espantalho, ele agora trabalha no projeto de Garoto Cósmico, à espera ainda de patrocinador

Por Agencia Estado
Atualização:

Ele tem alma de poeta. Alê Abreu é publicitário bem-sucedido. Trocou recentemente de estúdio - está agora na Vila Madalena. Embora jovem (30 anos), com cara de garoto, é um profissional respeitado no mercado e requisitadíssimo pelas agências. Entre um desenho e outro de encomenda, Alê sempre arranja algumas horas livres para desenvolver seus projetos individuais. Ele não divide sua vida - o profissional que precisa ganhar a vida de um lado, o artista de outro. Mas põe seu coração e todo o empenho nas animações mais pessoais. Foi assim com Sirius, com Espantalho e agora com Garoto Cósmico. Pode-se acusar Espantalho de um certo simplismo, melhor seria dizer, ingenuidade, o que alguns críticos fazem, efetivamente. Mas não há o que opor ao belo (e elaborado) grafismo daquele curta. A própria ingenuidade talvez seja um conceito discutível, pois Espantalho circulou com êxito em numerosos eventos, e não apenas de animação, no País e no exterior. Ganhou o prêmio de melhor filme nacional no Anima Mundi de 1998 e o de melhor direção de arte no Festival de Miami no ano seguinte. Nenhum filme "ingênuo" ganharia essa consagração (foram dez prêmios, no total). A expectativa de Alê é ir além com o Garoto. Ele já tem dez minutos de animação. Falta bastante (75 minutos) para atingir a duração média que ele sonha (85 minutos). Você pode até pensar - ah, dez minutos. Só? Cada um desses minutos representa horas de desenho à mão e, depois, de trabalho no computador. Por isso mesmo, Alê, que se queixa da falta de patrocínio para o projeto - está pagando tudo do próprio bolso -, diz que é difícil estabelecer um custo para Garoto Cósmico. "Se eu for contar a hora trabalhada, pelos valores de mercado, já estaria num preço incalculável." Psicodélico - Para a concretização de Garoto Cósmico serão necessários cerca de 30 mil desenhos e esboços feitos à mão. E Alê vai conseguir fazê-los todos sozinhos? "Tive a ajuda de duas ou três pessoas para chegar a esses dez minutos já prontos", ele conta. Há três anos trabalha no projeto. Escreveu o roteiro com Daniel Chaia, Gustavo Kurlat e Sabina Anzuategui, que também é a roteirista de Desmundo, de Alain Fresnot. Esta entrevista foi realizada no sábado de manhã - à noite, Alê receberia os amigos no estúdio para festejar o aniversário. O repórter pergunta se ele viu, na quinta à noite, no Telecine, o admirável desenho dos Beatles O Submarino Amarelo, dirigido por George Dunning. Alê não sabia que passaria na TV. Se soubesse, trataria de dar uma olhada. Já viu O Submarino Amarelo, mas aproveitaria para checar uma afirmação de sua co-roteirista, Sabina. Nunca houve, da parte dele, uma predisposição para recriar O Submarino, mas há uma cena do seu desenho em que os personagens pegam um foguete e fazem um vôo cósmico. No papel, pois a seqüência ainda não foi desenhada, Sabina jura que Garoto Cósmico terá ecos do grafismo psicodélico do Submarino de Dunning (e dos Beatles). A propósito, os dez minutos já desenhados correspondem, preferencialmente, a partes do filme que não têm diálogos. Uma ou outra têm uma fala e aí está esboçado o movimento labial. Mas esses dez minutos privilegiam a ação, dão uma idéia do colorido, da concepção visual. É o que Alê pode mostrar a possíveis investidores. Orçado em R$ 1,5 milhão e já inscrito nas leis de patrocínio, o projeto do Garoto continua à espera de patrocinador. Quem estiver interessado pode entrar em contato com Alê no seu estúdio, que se chama, sugestivamente, de Filme de Papel. Ele não hesita em dizer que Garoto é um ótimo investimento. "A animação é um mercado promissor e muito lucrativo. Os maiores estúdios, em todo o mundo, já perceberam isso e estão investindo alto." Garoto Cósmico conta a história de um grupo de crianças que abandona uma Terra futurista e caótica para encontrar um circo no espaço. Por meio de muita ação e aventura, eles, liderados pelo Garoto, aprendem a ver alegria nas coisas simples da vida. Será uma obra de ficção "barroco-científica", define Alê. E ele acrescenta: "Procurei simplificar meu traço, tornando-o mais expressivo e gestual." Está cansado de ouvir falar de efeitos especiais ou, então, uma coisa que lhe dizem com freqüência, que tal animação "é tão perfeita que parece real". O que Alê busca hoje, em seu trabalho como na vida, é a simplicidade. Alê, que fez, com Espantalho, a primeira animação brasileira finalizada em computador, trabalha há tempos, anos mesmo, nesse projeto. Espera levar o Garoto também para a TV por meio de uma série. E, embora esteja totalmente envolvido no projeto, sem condições de uma avaliação com base no distanciamento crítico, sabe que Garoto possui algumas diferenças marcantes em relação aos seus trabalhos precedentes. "A grande diferença é que, desta vez, além de popularizar, direciono mais o meu trabalho - Garoto Cósmico será para crianças entre 4 e 10 anos de idade." Garoto Cósmico ainda não tem um site próprio, mas internautas interessados em saber mais sobre o trabalho de Alê Abreu podem acessar o seguinte endereço - www.dialdata.com.br/espantalho. Nele, encontram-se detalhes e curiosidades sobre a produção de Espantalho e informações sobre o próprio Alê e sua carreira. Com Sírius, sua primeira animação, ele recebeu nada menos do que três prêmios, entre eles o de melhor filme, no Festival de Cine para Niños y Jovenes. Foi o começo de uma fulgurante carreira que levou Sírius a integrar a seleção da 16.ª Mostra Internacional de Cinema São Paulo e também a do prestigiado evento Animation for Children, no Festival de Hiroshima. Prêmios podem ser gratificantes, mas não são o mais importante. O sonho de Alê, poeta do cinema, é que Garoto Cósmico toque o coração das crianças.

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