Al Pacino sustenta "O Articulador"

Ele vive um estressado assessor de imprensa, drogado e também insone, que tenta segurar o mundo com as mãos até descobrir, de forma dramática, que nem tudo pode ser controlado

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Pela segunda vez em pouco tempo Al Pacino interpreta personagens que são verdadeiros farrapos humanos. Em Insônia, de Christopher Nolan, ele faz um tira que investiga um crime no Alaska e não consegue dormir pois lá praticamente não existe noite em certa época do ano. Agora, em O Articulador, ele vive um estressado assessor de imprensa, drogado e também insone, que tenta segurar o mundo com as mãos até descobrir, de forma dramática, que nem tudo pode ser planejado ou controlado. A direção é de Dan Algrant e, se você puser a lente muito próxima da história, ela não se sustenta. Vale o mood, o clima lisérgico como ela toma forma e, claro, o poder de interpretação de Pacino. Seu personagem, Eli Wurman, percebe que está envelhecendo e sua carreira declina. Tenta se segurar. Não pode negar favores a gente poderosa, como um ator famoso que lhe pede para quebrar um galho. Pede para Pacino ciceronear uma estrelinha que passa por Nova York, certamente um caso passageiro do ator. Em companhia da moça, Pacino desce aos infernos. De festinhas de embalo, regadas a drogas, até um crime não resolvido que envolve e compromete gente poderosa. Pelo que se vê, o roteiro parece banal e a impressão não é falsa. Lá pelas tantas o espectador mais acostumado ao cinema já sabe para onde caminha a história. E a coisa não melhora nem mesmo quando entra em cena Kim Basinger, no papel da doce Victoria Gray, amiga de Wurman e que tenta convencê-lo de que uma vidinha mansa no campo pode ser mais salutar do que a piração da cidade grande. As linhas convencionais são a oposição entre cidade e campo, a crítica (nunca levada até o fim) que o cinema americano costuma fazer do modo de vida competitivo - este mesmo modo de vida que o mundo se empenha em imitar e eles, em vender. Enfim, há muito de auto-complacência na questão de fundo sobre a qual o filme se constrói. Uma (auto) crítica amena, que coloca a decisão no foro individual e nunca no coletivo. Como tudo isso parece abstrato demais para um filme da indústria, é preciso desenvolvê-lo, de leve, nas entrelinhas de uma história de ação. E esta, digamos, é muito pouco inspirada. Segue, rotineiramente, as etapas esperadas. E deixa de explorar o que seria um interessante veio, o papel dos relações públicas no processo de turbinar a indústria cultural. Pacino, pressionando por telefone um jornalista para que este lhe antecipe o conteúdo de uma crítica, mostra a origem de uma tendência manipulatória que se difundiu pelo mundo. Mas, claro, também essa hipotética linha de análise é deixada de lado. O Articulador é um filme das oportunidades perdidas, salvo, em parte, por Pacino. Serviço - O Articulador (People I Know). Suspense. Direção de Dan Algrant. EUA/2001. Duração: 117 minutos. 14 anos

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.