Al Pacino: dose tripla de competência

Insônia está em cartaz, O Articulador estréia dia 27 e Simone em outubro. Nos três filmes, Al Pacino tem atuações soberbas, versáteis e decisivas

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Por Agencia Estado
Atualização:

Al Pacino fez três filmes em 2002. Um deles, em cartaz, é Insônia, em que faz o papel de um detetive de Los Angeles que vai resolver um caso no Alasca. Os outros são O Articulador, que estréia dia 27, e Simone, marcado para 18 de outubro. Já com três projetos para o ano que vem, inclusive a versão do sucesso teatral Anjos na América, Pacino não pára. É um dos atores mais respeitados na indústria cinematográfica americana, mesmo não sendo um dos mais altos salários de Hollywood - está na faixa dos US$ 10 milhões por filme. É o que lhe dá asas para pôr dinheiro num projeto como o de O Articulador, um filme que começou independente nas cabeças do diretor Dan Algrant (de Nu na América) e do roteirista Jon Robin Blatz. Pacino é o produtor-executivo, juntamente com ninguém menos que Robert Redford. O roteiro foi passado a Pacino, que o leu num fim de semana e se entusiasmou com o personagem Eli Wurman, um assessor de relações-públicas decadente de Nova York. Ele vive em função das pessoas que conhece e do que sabe sobre elas, o que explica o título original, People I Know. A certa altura do filme, ele se autodescreve como o tio do Drácula. E, realmente, quem viu Insônia e se impressionou com a aparência acabada e amarfanhada do astro pode imaginar: em O Articulador, estressado, voraz consumidor de cigarros, bebida e drogas, que vão do ecstasy ao ópio, passando por quantidades industriais de comprimidos, Eli Wurman é um trapo humano, mantido apenas pela vontade de fazer um evento em favor de africanos que vão ser deportados. Metido num sobretudo duas vezes maior que ele, andando quase obliquamente em relação ao chão, com um cabelo eriçado semelhante a uma crista de galo e ostentando olheiras soberbas, Pacino dá a impressão de que vai cair morto a qualquer momento. Mas o colapso físico, aliado ao estresse permanente, é adiado pela simples força de vontade do assessor que quer fazer algo significativo para equilibrar a montanha de sapos que engole de todos os lados. Pacino deita e rola nessa espécie de papel, interpretado com sutis detalhes de composição, até o fato de colocar um óculos sobre o outro. O mérito não é só dele. Coadjuvantes geralmente incapazes de brilhar até mesmo numa peça de escola como Ryan O´Neal, Kim Basinger e Téa Leoni têm atuações extremamente convincentes que realçam a viagem aos infernos do mundo dos famosos e poderosos de Nova York, mostrada pela trama de O Articulador. Em Simone, que Pacino fez depois de O Articulador, ele continua tão estressado quanto. Mas se aqui a tônica é a do homem pura vontade que tem de levar um físico depauperado, no outro filme o ator vive o diretor Viktor Taransky, um sobrevivente nato que cria uma estrela virtual para ocupar o lugar da atriz de verdade que abandona seu filme e pode fazer fracassar todo o projeto. Como Taransky, Pacino é o Pigmalião eletrizado pela tarefa de armar um blefe praticamente impossível. O truque dá certo e a estrela Simone faz sucesso, ganha dois Oscars e, ainda por cima, se torna a cantora mais popular do mundo. Como manter a farsa que lhe fugiu ao controle? Pacino interpreta de forma frenética o diretor, lembrando um pouco o personagem igualmente a mil de Sonny (a propósito, o nome com que o chamavam antes da fama), num dos seus primeiros êxitos, Um Dia de Cão, de 1975. Vital, animado, ele luta com todas as forças e, quando tem de enfrentar, qual um moderno Viktor Frankenstein, a sua criatura, ele é um adversário temível, mas sempre charmoso. Simone1 tem feito sucesso e Al Pacino tem muito a ver com ele. Em Insônia, Pacino é o detetive da polícia de Los Angeles Will Dormer. Ele está enrolado com uma investigação interna e é despachado para uma remota cidadezinha do Alasca que tem o assassinato de uma garota para ser esclarecido, algo que a polícia local dificilmente terá condiçõs de enfrentar. Dormer tem de enfrentar um assassino calculista e frio, acaba matando acidentalmente seu parceiro, o sujeito que poderia depor contra ele na investigação e durante todo o tempo não consegue dormir por causa do dia subpolar que não tem noite. A falta de sono atrapalha a capacidade de raciocínio do policial, faz com que não seja um adversário à altura do vilão. Pacino parece, no fim do filme, um trapo. Novamente ele compõe o personagem com todos os truques interpretativos que ajudem a sua imagem de exaustão terminal. Alfredo James Pacino nasceu a 25 de abril de 1940 em Nova York. Nunca se casou, mas tem três filhos de ligações com a atriz Beverly D´Angelo e a professora de teatro Jan Tarrant. Teve um longo caso com Diane Keaton. Estreou no cinema em 1969 e seu terceiro papel foi o de Mike Corleone em O Poderoso Chefão (1972). Ganhou o Oscar em 1991, por Frankie e Johnny. Quando Francis Ford Coppola o convidou para atuar em Apocalypse Now, respondeu ao cineasta: "Eu faria tudo por você, menos ir para a guerra".

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