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Aitana Sánchez-Guijón vai a Berlim em defesa da paz

Atriz espanhola ataca apoio de seu governo à política de Bush e denuncia censura na TV

Por Agencia Estado
Atualização:

Você sabe de quem se trata, com toda certeza: Aitana Sánchez-Guijón. Como esquecer-se da camareira do Titanic? Aitana é um monumento de mulher. Está aqui na Berlinale como atriz do filme de Gabriele Salvatores, Io non Ho Paura. O filme não é mau, é até bom. Aitana é maravilhosa. Conversa com o repórter em italiano e não espanhol. É sua segunda língua e ela está aqui mostrando um filme que concorre pela Itália. Faz a mãe do garoto que descobre o envolvimento do pai com criminosos. Defende a cria como uma leoa. "Gostei muito de representar a personagem com esse sotaque do sul da Itália. É onde se passa a história e falar de outra forma poderia comprometer sua credibilidade. As pessoas da região dizem que eu falo bem, como elas, e isso me dá muita satisfação." Aitana não está aqui para falar sobre o filme de Gabriele. Como membro atuante da diretoria do Sindicato de Atores Espanhóis, também veio denunciar o governo de seu país. Conta que o primeiro ministro José María Aznar está dando apoio à política de George W. Bush para o Iraque contra a vontade de 80% da população. "Uma enquete mostrou que é esse o número de espanhóis que está contra a guerra. Apesar disso, o governo vai contra a própria vontade do país no sentido de um alinhamento que só pode estar baseado em vantagens comerciais." Ela conta que a entrega do Goya, o Oscar do cinema espanhol, em janeiro, foi uma grande manifestação contra a guerra. "Todo mundo que ganhava subia ao palco para dizer não à guerra", conta. Apesar disso, a TV oficial, que transmitia a cerimônia, cortou todas as manifestações nas imagens transmitidas para os demais países da Europa (e do mundo). "É a prova definitiva de que é um governo antidemocrático: está contra a população e ainda pratica a censura." Ela não chega a falar num retorno ao franquismo nem numa nova Guerra Civil na Espanha, mas pede à imprensa que denuncie essa situação. "Quero manifestar aqui meu reconhecimento aos governos da Alemanha e da França, por sua resistência ao ímpeto guerreiro de Bush." O vento da rebelião toma conta da classe artística e da própria imprensa, na Espanha. Na sexta, Salma Hayeck e a diretora Julie Taylor desembarcaram em Madri para mostrar o filme sobre Frida Kahlo. A imprensa convocada para uma coletiva teve de esperar mais de uma hora pelas duas. O protesto começou pelos fotógrafos, que se recusaram a clicar as duas, quando chegaram, e ainda exortaram os colegas críticos e jornalistas a não fazerem suas entrevistas. Foi preciso toda diplomacia de Salma Hayeck para tentar reverter a situação. Ela só conteve a revolta da imprensa ao também dizer não à guerra. "Nosso compromisso, como artistas, é com o homem e a vida", diz Aitana. "Se a população quer uma coisa, nós, que deveríamos ser faróis e até haver proposto isso antes, como poderemos ir contra?" Não à guerra, ela repete. Encarna uma Passionária. Nó passarán?

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