
25 de abril de 2020 | 05h00
No fim do ano passado, as particularidades do mercado – quase sempre hostil com o produto brasileiro –, fizeram com que Ainda Temos a Imensidão da Noite passasse quase despercebido.
O belo filme de Gustavo Galvão ganha agora nova chance. Desde a quinta-feira, 23, está disponível nas plataformas Now, Vivo Play e Oi Play. Tem algo a ver com THF – Aeroporto Central porque lá pelas tantas a narrativa, que começa em Brasília, transfere-se para Berlim. Como Karim Aïnouz, que dirige Aeroporto Central, Galvão e sua protagonista são mais dois brasileiros na Alemanha.Em dezembro, em entrevista ao Estado, Galvão contou que, na juventude, quando era estudante, foi vocalista de uma banda punk em Brasília. Ele se orientou para o cinema. Mas a atração pela música, e pelos músicos, permaneceu muito forte.
Ainda Temos a Imensidão da Noite é sobre os integrantes de uma banda brasiliense. Tentam fazer carreira, mas são considerados alternativos demais. O grupo dispersa-se. Uns vão para a função pública – afinal, é Brasília. Outro vai para Berlim, e é para lá que segue Laya Gresta. Ao chegar, encontra uma situação inesperada. O ex-parceiro, na arte e na vida, está tendo um caso com outro homem. Em vez de acusações, gritos e ranger de dentes, a questão de gênero não é vista como escândalo, algo a ser condenado. Vira um trio, mas, se com dois a relação já pode ser difícil, com três termina ficando insustentável.
Como amante da música, e apesar das dificuldades próprias de um set de filmagem com recursos limitados, Galvão diz que o processo foi muito estimulante. Em shows, ninguém reclama de duração e, ao entrar no embalo, o público quer é mais. A criação, a música como liberdade. Essa mesma liberdade foi o que Gustavo Galvão buscou no trabalho com músicos de verdade e atores não profissionais.
Ayla era arquiteta, dois dos principais músicos, Munha da 7 e Nicolau Andrade, tiveram formações diversas, Lee Ranaldo, da banda Sonic Youth, fez o trabalho de estúdio e o próprio Galvão gosta de lembrar que se formou no pós-punk, ouvindo Joy Division. A música não é fundo em Ainda Temos a Imensidão da Noite. É personagem. O filme merece atenção.
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