"Adeus, Dragon Inn" vê o fascínio dos velhos cinemas

Sonhos e lembranças de infância do diretor Tsai Ming-liang lhe indicaram o caminho de Adeus, Dragon Inn, que revela na Mostra BR o encanto dos velhos palácios de filmes

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Por Agencia Estado
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O cineasta Tsai Ming-liang tinha 11 anos quando viu Dragon Inn. O filme foi um grande sucesso na Ásia no começo dos anos 1970. Em Kuching, na Malásia, onde passou a infância, o avô o levava regularmente ao cinema. O bilheteiro era um homem manco, de cara assustadora. Ele incorporou-se às memórias do diretor. Tsai sonha sempre com esses velhos cinemas, especialmente o que freqüentava quando menino. Esse sonho do cinema, também como um espaço físico, alimenta o novo filme de Tsai Ming-liang, em exibição na mostra. Adeus, Dragon Inn leva jeito de ganhar o prêmio da crítica, na mostra, mas você só saberá amanhã. É um filme sem história. Passa-se nesse cinema cujos freqüentadores parecem fantasmas, pessoas, quase sempre homens, que freqüentam corredores escuros, banheiros sujos e fazem um rodízio das poltronas, sentando-se uns junto aos outros, mas sem que nada ocorra - muito menos de proibido -, de fato. Existe o espaço, portanto. O cinema decadente, a tela que projeta Dragon Inn. E existe a bilheteira, manca como aquele fantasma da infância de Tsai. Ela sobe e desce escadas, percorre longos corredores numa lentidão exasperante. Coloca o problema do tempo. Tempo e espaço são elementos fundamentais do cinema. Adeus, Dragon Inn é, acima de tudo, um filme sobre cinema. Usa o tempo, o espaço e o meio para metaforizar a solidão e o sexo. Enquanto fazia What Time Is There em 2001, Adeus, Dragon Inn começou a tomar forma na cabeça do diretor. É sempre o mais difícil, ele explica. Antes demorava para escrever o roteiro, um ano ou mais. E não é propriamente um roteiro, mas um conjunto de cenas e sensações. Encontrado esse tom, o filme faz-se rapidamente. Os filmes dentro dos filmes de Tsai são populares. Um musical em O Buraco, artes marciais em Adeus, Dragon Inn. Ele não acha que seu cinema é difícil. "Não facilito as coisas para o espectadores, faço-lhe mais perguntas do que ofereço respostas, mas não é um cinema complicado", diz ele. E há o tema do homossexualismo que percorre seus filmes. Esses homens todos no banheiro de Adeus, Dragon Inn são um exemplo. Tsai não teme o assunto, só não gosta de escancarar. ?É muito difícil definir a sexualidade das pessoas. Nunca sabemos de fato o que elas fazem e é bom que exista essa nuvem, esse mistério."

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