"Abril Despedaçado" é elogiado nos EUA

Críticos de Nova York tiveram reação positiva em relação ao filme, com elogios ao estilo vigoroso e poético de Salles filmar um tema lúgubre

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Por Agencia Estado
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Menos de 24 horas depois de ter conquistado uma das cinco vagas para o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro, Abril Despedaçado enfrentou outro grande teste nos EUA: os críticos de Nova York. Na sexta, o novo longa de Walter Salles entrou em cartaz em três salas de cinema da cidade que possui os resenhistas mais importantes do país. A reação dos críticos a Abril foi positiva, com elogios ao estilo vigoroso e poético de Salles filmar um tema lúgubre e a fotografia de Walter Carvalho. No entanto, ao contrário da calorosa recepção a "Central do Brasil" três anos antes, Abril teve resposta mais reservada, sobretudo em relação aos atores protagonistas da história. Como sempre, a resenha mais aguardada é a do jornal New York Times. Com grande destaque, a crítica de A.O. Scott comparou Abril Despedaçado com outro atual hit independente da temporada, o longa In the Bedroom, de Todd Field. Ambos os filmes são sobre famílias lidando com a perda dos filhos e o sentimento de vingança. No caso do de Salles, a vendeta entre dois feudos no nordeste do começo do século passado é por posse de terras. No de Field, a história é contemporânea e a vingança é ação não planejada. Scott escreve que Abril é "um cauteloso olhar num mundo em que a violência é o princípio básico da ordem social, a regra em vez da exceção". Segundo o crítico, "a premissa do filme é lúgubre, mas Salles tem um jeito de infundir um romantismo honesto e de coração aberto nas mais terríveis histórias". Ao descrever o sentimentalismo da história, Scott salienta que o cineasta a subjuga no final. "Salles tem a confiança de um contador de histórias tão encantado por seu conto para se preocupar com a resistência do público, a qual ele vem a superar com desenvoltura". Sobre a fotografia de Carvalho, o Times diz que ela "encontra a beleza austera das vazias e monocromáticas paisagens de deserto e também das faces envelhecidas dos plantadores de cana". Duas cenas chamam a antenção do crítico: a seqüência na qual Rodrigo Santoro vinga a morte do irmão e a chegada de dois artistas de circo, "que se conectam com o filme da mesma forma que La Strada, de Federico Fellini, e Bye Bye Brasil, de Carlos Diegues". Garotos - A seqüência de perseguição também foi elogiada pelo jornal New York Post, que concedeu três estrelas a Abril. Já a crítica do Daily News, assinada por Jack Matthews, decano resenhista, leva o título de "A Vida Não é Carnaval para os Garotos Brasileiros". Matthews diz que ambos os filmes de Salles lidam com o desafio de crescer "em um país hostil à sua população infantil". A revista Time Out alerta o público para levar uma bebida gelada ao cinema, pois "o intenso calor a radiar da tela é praticamente palpável". O crítico Jan Stuart, do matutino Newsday, escreveu que "faina e desespero raramente são capturados em um filme com tanta sensualidade quanto Abril". O único aspecto questionável de Abril que parece ter encontrado consenso por entre os críticos foi a autenticidade de Santoro para o papel principal. Em análise mais elegante, o New York Times diz que o ator parece "um astro de cinema despachado para os campos de cana de açúcar". O tablóide NY Post diz que Santoro "parece um modelo milagrosamente depositado no meio do nada". A crítica mais contundente ao elenco veio do Newsday: "um filho é muito bonito o outro é um estrondoso maçante", diz o crítico, que ainda considerou o garoto Ravi Ramos Lacerda como um dos atores mirins menos cativantes do cinema desde Freddie Bartholomew (ator da década de 30)". O lançamento de Abril em Manhattan marca a abertura de um novo multiplex destinado a filmes de arte, o Sunshine Cinema, um dos mais antigos espaços cinematográficos de Nova York e que não era utilizado como tal há quase 50 anos. O filme de Salles ocupa três das cinco salas do complexo. No fim de semana, Abril teve sessões ininterruptas, a cada 45 minutos, do meio-dia a uma da manhã. Foi um total de 17 exibições diárias, quantidade inédita para um filme estrangeiro. A poucos quarteirões de distância, o famoso multiplex Angelika, exibia sete sessões diárias do filme bósnio Terra de Ninguém e doze do francês O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, os dois mais fortes concorrentes de Abril no Globo de Ouro.

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