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'A Verdade Nua e Crua' tenta fazer humor com machismo

Katherine Heigl, forte candidata a rainha de comédias românticas, divide a cena com Gerard Butler, de '300'

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Por Redação
Atualização:

Comédias românticas parecem existir desde quando o mundo é mundo, por isso andam tão desgastadas e previsíveis. A Verdade Nua e Crua, que estreia em todo o Brasil na sexta-feira, pode não ser o fundo do poço, mas é mais um prego colocado no caixão do gênero que parece dar seus últimos suspiros.

 

Filme tem roteiro de três mulheres e direção de Robert Luketic, de 'Legalmente Loira'. Foto: Divulgação

 

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Estão longe os tempos em que comédia romântica combinava charme com sagacidade. As décadas de 1930 e 1940, com filmes como Levada da Breca e Jejum de Amor, apontavam um futuro feliz para o gênero que, nos anos de 1980 e 1990, ainda parecia saudável. Hollywood fazia filmes como Harry e Sally - Feitos um Para o Outro. A primeira década do século 21 se aproxima do fim e o que o cinema tem a oferecer, combinando humor e romance, atende por nomes como A Proposta, Vestida Para Casar e A Verdade Nua e Crua. Todos são uma espécie de plágio requentado da fórmula de sempre. Os personagens são Ela e Ele. Muito diferentes, brigam feito cão e gato no primeiro ato do filme. Depois de uma trégua, percebem que podem ficar bem juntos. No final, um dos dois acaba voltando para o (a) ex, mas percebe que o grande amor de sua vida é aquela pessoa cujo nome vem junto do dela nos créditos do filme. Em A Verdade Nua e Crua, Ela é interpretada por Katherine Heigl (forte candidata ao posto da atual rainha das comédias românticas) e atende pelo nome de Abby. Produtora de televisão, trabalha demais e não tem nem tempo para encontrar um novo namorado. Essa função cabe à sua assistente (Bree Turner) que não apenas arma os encontros como dá dicas de como ela deve se comportar. Ele é interpretado pelo escocês Gerard Butler (300), um sujeito boca suja e misógino que ganha a vida dando conselhos num programa de televisão de madrugada. Claro que a vida dos dois personagens vai se cruzar e eles vão brigar muito para depois perceberem que o filme será muito previsível. Ele é contratado para trabalhar no programa que ela produz - um talkshow apresentado por um casal cinquentão, que dá conselhos sentimentais, culinários ou o que mais for preciso para subir a audiência. Mike - esse é o nome do sujeito - bate de frente com Abby e logo é capaz de desvendá-la: solteira, sexualmente frustrada e a espera de um príncipe encantado, que existe e mora na casa ao lado. O acordo entre os dois inimigos é simples: Mike ajuda Abby a conquistar o rapaz e ela, em troca, o ajuda no programa de televisão, porque juntos podem elevar a audiência à estratosfera. Curioso como, para Hollywood, uma mulher jamais é considerada bem sucedida se não tiver um homem ao seu lado. A satisfação profissional de nada vale se não existir um príncipe em sua cama para chamar de seu, mesmo que para isso ela precise adotar um comportamento grosseiro, vulgar e machista - afinal, quem tem o poder é o homem. E é assim que Abby começa a agir para conquistar seu vizinho: fazendo tudo igual a Mike, desde o vocabulário até nas atitudes. Roteirizado por três mulheres e dirigido por Robert Luketic (que fez bem melhor em Legalmente Loira), A Verdade Nua e Crua não chega a ser ofensivo, é apenas um filme que tenta fazer humor de fórmulas batidas combinadas com uma visão de mundo bastante machista. Harry e Sally,  por exemplo, é plagiado numa cena num restaurante quando Abby usa uma calcinha com vibrador acoplado e o controle-remoto cai nas mãos de uma criança. A reação da personagem a cada choque recebido pretende remeter à já clássica simulação de orgasmo de Meg Ryan, também num restaurante, no filme da década de 1980. Mas o esforço de Katherine Heigl é vão. Nem tanto por culpa dela, mas por conta do próprio filme, no qual nem a baixaria consegue ser engraçada. Se é para ser vulgar, que seja como "Se Beber Não Case" ou os filmes de Jude Apatow ("Ligeiramente Grávidos", "O Virgem de 40 Anos"), que pelo menos extraem humor da baixaria, sem a pretensão de serem levados à sério. Não que "A Verdade Nua e Crua" tente se levar a sério, mas também não diverte -- apenas constrange.  (Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

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