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A sutileza do cinema francês de Éric Rohmer

O grande cinema de Rohmer pode ser visto em dois filmes de épocas distintas em cartaz em SP: A Colecionadora, de 1967 e A Árvore, o Prefeito e a Mediateca, de 1993

Por Agencia Estado
Atualização:

Dois exemplares de épocas diferentes na carreira do diretor francês Éric Rohmer estão em cartaz em SP: A Colecionadora (cartaz do Top Cine) é de 1967. A Árvore, o Prefeito e a Mediateca (no CineSesc), de 1993. Quem conhece Rohmer sabe e quem não conhece descobre rapidinho: trata-se de um cineasta original, de assinatura própria, cujos filmes não se confundem com nenhum outro. A Colecionadora, por exemplo. O enredo, dito secamente pode soar banal. Dois amigos, Adrien e Daniel, alugam uma casa na Riviera Francesa e a dividem com uma jovem libertina, Haydée (Haydée Politoff). A moça, de beleza espantosa, mostra-se decidida a dormir com todos os rapazes disponíveis da região. Aparentemente não quer nada nem com Daniel nem com Adrien, interpretado por Patrick Bauchau. Mas há todo um subtexto erótico na maneira como tanto os rapazes como a moça pretendem se "desinteressar" de qualquer aproximação mais íntima. As idas e vindas desses, digamos assim, "não amantes" é pontuada por uma série de conversas intelectuais, bem à francesa. Adrien, por exemplo, lê Jean-Jacques Rousseau enquanto toma banhos de sol e mar e joga indiretas a Haydée. Em certo sentido, A Árvore, o Prefeito e a Mediateca é ainda mais inusitado. Não fosse Rohmer pareceria um manifesto ecológico. O prefeito socialista (Pascal Greggory) quer construir uma espécie de centro cultural em sua cidade e para isso precisa derrubar uma árvore centenária. Vai poluir o cenário, como acusam seus detratores, em especial um professor de História, interpretado por Fabrice Luchini. Nos dois filmes domina esse tom baixo, dos acontecimentos banais, ou da quase ausência de acontecimentos. Rohmer não ilude o espectador. Sabe que a vida, de maneira geral é feita mesmo dessas pequenas ações. A vida não é um épico; é um drama banal. Ou uma comédia de costumes. Nos dois filmes, as peças caem fora dos lugares, como se o diretor dissesse que o homem, em relação aos outros e a si mesmo, é um excêntrico. Não tem centro. Mas a maneira sutil de discutir essa idéia torna esses filmes muito amáveis e suaves. É grande cinema sem dúvida. A Árvore, o Prefeito e a Mediateca. De Éric Rohmer. Cinesesc. 15 horas, 17h10, 19h20, 21h30. 12 anos A Colecionadora. De Éric Rohmer. Top Cine 2. 14h, 15h50, 17h40, 19h30, 21h20. 14 anos

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