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A sutil vivacidade de ‘Las Horas Muertas’

Filme mexicano de Aarón Fernández aposta na sutileza e no despojamento para contar uma história de iniciação

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Locação única, bons atores, texto enxuto e direção segura –  Las Horas Muertas, de Aarón Fernández, prova que não é preciso orçamento enorme ou parafernália técnica para fazer bom cinema. Com pouco, se diz muito.

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A história é e de um garoto de 17 anos convocado pelo tio para ajudá-lo a tomar conta de um motel de beira de estrada na praia de Veracruz, no México. Obviamente, o tio empurra o trabalho para o rapaz, pois o deixa lá sozinho e some de vista. A trabalheira toda fica por conta de Sebastián, a quem o tio faz recomendações básicas. A mais importante de todas – discrição máxima em relação aos clientes, já que o motel é usado para encontros sexuais rápidos.

E assim se passa o cotidiano de Sebastián, com sua amizade com o garoto que vende cocos em frente ao motel, a dificuldade em encontrar uma faxineira para ajudá-lo, a faina da limpeza dos quartos etc. E, sim, a observação curiosa, de alguém que está em plena formação sexual, sobre o que se passa por trás daquelas paredes. Um acontecimento o mobiliza: conhecer a jovem corretora de imóveis Miranda, que lá se encontra regularmente com seu amante. Como o namorado não é lá um modelo de atenção e pontualidade, ela acaba por fazer amizade com o rapaz.

Essa é a historinha, no que ela possa ter de singeleza e mesmo de previsível desenvolvimento. O mais interessante não é o tema, mas a maneira como o diretor o apresenta ao espectador. Se as tramas são sempre as mesmas, a originalidade consiste na maneira de tratá-las. Por exemplo, Fernández faz da praia selvagem e algo desolada de Vera Cruz, uma cúmplice do enredo. Miranda tenta em vão vender algumas casas no local e enreda-se com seu amante desatento. Fuma e olha o mar. Pensa. Sebastián também anda pela praia, briga e depois se alia ao pequeno vendedor de cocos. Também olha o mar. E ouve os ruídos do amor filtrados pelas paredes finas do motel. O desejo pulsa, mas de forma contida.

Quase tudo se passa no motel, com raras incursões fora dele, pela imobiliária onde trabalha Miranda ou o barzinho da cidade, onde ela procura diversão. É filme de iniciação amorosa, no qual se insinua mais do que mostra de maneira explícita. A intensidade visual com que se registra esse ato de passagem entre a mulher um pouquinho mais experiente e o jovem coloca o espectador dentro da cena. Não como voyeur, mas participante emocional de um rito de passagem e descoberta.

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