PUBLICIDADE

'A Rota Selvagem' é um filme despojado e tocante sobre a solidão infantil

Filme exibido na Mostra de Cinema de São Paulo, de Andrew Haigh, traz a história de um menino solitário em busca de um ponto de referência

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

A solidão infantil encontra expressão forte neste A Rota Selvagem, de Andrew Haigh. Charley (Charlie Plummer) é um garoto sem mãe que vive com um pai inconstante, Ray (Travis Fimmel), em condições precárias e mudando de um lugar para outro. Charley precisa se virar e encontra emprego de tratador de cavalos com o trambiqueiro Del (Steve Buscemi).

'A Rota Selvagem', um horse movie sobre um garoto só, diante do mundo intenso Foto: Scott Patrick Green/Divulgação

PUBLICIDADE

Del vive de apostas e dá uma turbinada nos cavalos em fim de linha para que vençam uma derradeira corrida. Um desses animais é Lean on Pete, pelo qual o garoto se afeiçoa. Charley sabe que, se Lean on Pete não se der bem na corrida, pode ir para o abate clandestino, no México. Trata de salvar-lhe a vida. Esse é prólogo do que seria um “horse movie”, visualmente muito bonito e bastante pungente. Porque seu tema, afinal, é a busca de proteção e ponto de referência num mundo indiferente, que parece tudo negar.

Criança, cavalo, solidão, pais ausentes – tudo isso parece confluir para um cinema de tipo chantagista, daqueles de arrancar à força lágrimas do espectador. Pois bem, a vantagem de A Rota Selvagem é jamais usar golpes baixos para despertar emoção. Sua estrutura é muito pouco sentimental, como se o diretor se contentasse em narrar fatos, de maneira quase objetiva, confiante de que eles falam por si mesmos, sem necessidade de adornos adicionais. É despojado, sem ser seco.

Andrew Haigh é diretor de boa mão. Dele, já havíamos visto o drama intimista 45 anos, em que uma esposa (Charlotte Rampling) descobre que o marido jamais se esqueceu de um amor de juventude. Em A Rota Selvagem, os recursos cênicos são muito diferentes. Haigh parte para a América profunda e, com a ajuda de excelentes atores (o garoto Plummer é ótimo, Buscemi dá show), explora de maneira visual essa solidão que só se encontra nos grandes espaços abertos. Um menino só, diante do mundo imenso.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.