A quem o júri de Jane Campion vai outorgar a Palma de Ouro no Festival de Cannes?

Marion Cotillard e Steve Carell são fortes candidatos aos prêmios de melhor atriz e ator

PUBLICIDADE

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

E o 67.º festival começou a outorgar seus prêmios nesta sexta-feira, 23. Na mostra Un Certain Regard, o júri presidido por Pablo Trapero destacou o filme White God, uma espécie de Planeta dos Cães, em que eles se rebelam contra a violência dos homens. O júri também deu seu prêmio especial a O Sal da Terra, de Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado, sobre o pai do segundo, o grande fotógrafo Sebastião Salgado. A crítica deu seu prêmio da competição para o turco Nuri Bilge Ceylan, de Winter Sleep. Na mostra Un Certain Regard, venceu o argentino Jauja, de Lisandro Alonso.

PUBLICIDADE

Na cabeça de todo o mundo, está a pergunta que não quer calar – a quem o júri presidido pela cineasta neozelandesa Jane Campion vai outorgar, no sábado à noite, a Palma de Ouro?

Em quase 70 anos de histórias do maior evento de cinema do mundo, Jane permanece a única mulher a vencer o prêmio. Embora a crítica esteja dividida – a estrangeira gostou mais do filme que a francesa –, o longa da japonesa Naomi Kawase, Still the Water, é uma aposta a ser considerada. Naomi é mulher, seu filme é belíssimo, e busca a transcendência ao falar de temas como vida e morte. A maioria da imprensa local, porém, prefere jogar suas fichas no enfant terrible Xavier Dolan, do Canadá. Jornais locais, como se tivessem combinado, estamparam nas capas a foto dele com a frase ‘Yes you Cannes’.

Mommy, que poderá fazer de Dolan o mais jovem vencedor da Palma – aos 25 anos –, é sobre a complicada relação da mãe de um garoto que sofre de TDAH, a síndrome da falta de atenção, com ele e uma vizinha que também não deixa de possuir uma deficiência. É gaga. O filme é extremamente audacioso – falado em québécois, usa a tela no formato quadrado e só abre o quadro em dois breves (e essenciais) momentos. Se nenhum dos dois – Kawase nem Dolan – ganhar o prêmio, não faltarão candidatos. O turco Nuri Bilge Ceylan, de Winter Sleep, fez um filme no limite da filosofia, e belamente realizado, com uma iluminação que deixa o cinéfilo siderado. O africano Abderrahmane Sissako, com Timbuktu, é outro que tem estado nas considerações da imprensa.

E, claro, existem sempre os Dardennes, que já ganharam duas vezes a Palma e poderiam levar a terceira, com Dois Dias e Uma Noite. Marion Cotillard é uma unanimidade no voto para melhor atriz. Steve Carell é outra unanimidade como melhor ator, por Foxcatcher, de Bennett Miller. Os cinéfilos talvez gostem de saber que a cultuada revista Cahiers du Cinéma outorgou apenas duas Palmas em seu guia de cotações, e elas foram para Foxcatcher e Maps of the Stars, o novo David Cronenberg, no qual Julianne Moore está genial – e você já pode apostar na indicação dela para o Oscar de coadjuvante em 2015.

Os dois últimos filmes da competição foram o do russo Andrei Sviaguintsev, Leviathan, brilhantemente realizado e que apresenta um retrato terrível do choque do indivíduo com o Estado. A Rússia de Putin é algo próximo do inferno, mas ao mesmo tempo que critica os homens, e os sistemas, Sviaguintsev abre e fecha o filme com suntuosas paisagens, externando sua crença de que o país sobreviverá a mais esse tsunami, após os czares e o comunismo. E houve Sils Maria, de Olivier Assayas, não tão bom quanto Carlos ou Depois de Maio, mas no qual Juliette Binoche está, mais uma vez, admirável.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.