A Partilha estréia em 50 salas do País

Quem acha que o diretor Daniel Filho simplesmente passou a peça pela câmera vai descobrir que não é verdade. O próprio autor, Miguel Falabella disse que Daniel tirou da peça um filme que desconhecia. É a história das irmãs que lavam roupa suja, brigando pelo espólio da mãe que morreu

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Por Agencia Estado
Atualização:

Desista de procurar a melhor piada de A Partilha, o filme, no texto da peça de Miguel Falabella. É uma criação do diretor Daniel Filho e, para não tirar a graça da novidade, digamos apenas que ela tenta explicar o fracasso do personagem de Herson Capri. É o marido militar da tijucana interpretada por Glória Pires. Muito divertida. Não é a menor das novidades de A Partilha. Quem acha que o diretor Daniel Filho simplesmente passou a peça pela câmera vai descobrir que não é verdade. O próprio Falabella disse que Daniel tirou da peça um filme que desconhecia. A história das irmãs que lavam roupa suja, brigando pelo espólio da mãe que morreu, pode até ser demolida, mas, desta vez, os argumentos terão de ser buscados em outra seara que não a tal estética publicitária que compromete, segundo os críticos, boa parte da produção brasileira atual. Também não vale atirar pedras em Daniel Filho por sua estética televisiva, o que talvez fosse verdadeiro para O Casal, que ele havia dirigido como especial na TV e refez como filme, sendo difícil, por isso, desvencilhar-se do tratamento audiovisual que tinha dado ao assunto. Revisto recentemente, no Canal Brasil, O Casal revelou-se bem apreciável. Um simpático olhar sobre as pequenas vidas, sobre esse Brasil da classe média que prossegue em A Partilha. Da época do regime militar até hoje, a classe média brasileira não conseguiu resolver seus problemas. Eles são afetivos, familiares, mas também econômicos. Lembram-se de Tancredi, de O Leopardo? As coisas mudam para... As quatro irmãs do filme, interpretadas por Glória, Andréa Beltrão, Lilia Cabral e Paloma Duarte, brigam por bens materiais, mas, como Daniel Filho não é cínico, terminam partilhando emoções. Foi o que atraiu o diretor. Embora as quatro sejam as protagonistas, a ênfase está na tijucana. Aquela suburbana, diz Daniel, somos nós, o povo brasileiro. Seu filme é adocicado, mas não demais. Tem diálogos espirituosos e atrizes (Glória Pires e Lilia Cabral) que garantem a empatia. Você só fica pensando no que faz uma atriz como Chica Xavier num papel que parece pequeno como o da doméstica. Não só não é pequeno, como está nele a chave do filme. Como Amores Possíveis, Domésticas e o ainda inédito O Casamento de Louise, A Partilha revela uma vontade de dialogar com o grande público sem prejuízo da inteligência. O melhor cinema brasileiro não passa por nenhum desses filmes, mas não se pode dizer que o sucesso que uns estão fazendo e outros ainda farão não é merecido. A Partilha. Comédia. Direção Daniel Filho. Br/2001. Dur.: 93 min.

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