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"A Noiva Estava de Preto" reestréia em SP

Filme de François Truffaut tem Jeanne Maureau no papel de Julie, mulher que caça um a um os homens que provocaram a morte de seu futuro marido, vestida de preto à porta da igreja

Por Agencia Estado
Atualização:

Em seu terceiro filme com François Truffaut (fez uma ponta em Os Incompreendidos, é a estrela absoluta de Jules e Jim - Uma Mulher para Dois), Jeanne Moreau interpreta o papel-título de A Noiva Estava de Preto. O filme reestréia amanhã. Sua personagem chama-se Julie Kohler. Soa como Colre, cólera em francês. Julie é a imagem do ódio. Caça um a um os homens que provocaram a morte de seu futuro marido, à porta da igreja. A noiva veste-se de preto para executar sua vingança. Todd Field, o diretor de Entre Quatro Paredes, deve ter visto o filme de Truffaut. É uma adaptação do romance de Cornell Woolrich, autor que, com outro nome (William Irish), também forneceu o material para outro thriller do diretor: A Sereia do Mississipi. Não é segredo que Truffaut, conhecido como o romântico que desconfiava do romantismo e o homem que amava as mulheres, viveu sempre polarizado entre duas influências, que representavam seus dois grandes amores no cinema. De um lado, Roberto Rossellini, de outro, Alfred Hitchcock. Os filmes rossellinianos de Truffaut (Jules e Jim, O Garoto Selvagem) são melhores do que os hitcockianos. É até o caso de perguntar-se por quê. Truffaut adorava Hitchcock. Seu livro de entrevistas com o mestre do suspense (Le Cinéma selon Hitchcock, na França. Hitchcock Truffaut, no Brasil) é um dos melhores já escritos sobre um diretor (e o próprio cinema). Discutindo exaustivamente cada filme, Truffaut leva Hitchcock a expor as concepções estéticas e técnicas que fizeram dele um grande do cinema. No livro, o mestre explica o que é o suspense e como criá-lo. Como criou nos dele, pelo menos. Truffaut absorve apenas externamente as lições de Hitchcock. Não aprofunda os personagens nem as tramas. A Noiva é exemplar de suas dificuldades ao navegar nas águas de Hitchcock. Pode-se argumentar que Truffaut, embora hitchcockmaníaco, não queria fazer filmes hitchcockianos. Há uma gratuidade que emprerra a ação de A Noiva e impede a adesão do espectador à dor de Julie. Poderia e até deveria ser uma personagem magnífica. Essa mulher obcecada por vingança destrói-se pelo ódio. Chega ao final completamente esvaziada de sua substância humana e talvez por isso tenha sido uma referência para o Todd Field de Entre Quatro Paredes, no qual os personagens de Tom Wilkinson e Sissy Spacek chegam ao fim expressando o mesmo vazio interior. Claro que o filme tem boas cenas, Jeanne Moreau é ótima e o elenco masculino inclui nomes importantes do cinema francês (Michel Bouquet, Charles Denner e outros). Mas cabe destacar a ressalva que Jean Tulard faz no seu Dicionário de Cinema. Truffaut não conseguiu tornar-se um novo Hitchcock. Seus thrillers e fantasias científicas beiram o catastrófico. Prova disso é a história dessa Marnie que não consegue libertar-se de suas obsessões. Julie termina vítima do próprio ódio. Poderia ser uma grande personagem trágica. Você vai ver que não é. Serviço - A Noiva Estava de Preto (La Mariée Etait en Noir). Drama. Direção de François Truffaut. Fr/67. Duração: 107 min.12 anos

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