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A música de Gilberto Mendes em filme

Documentário sobre o compositor, um dos principais criadores do movimento Música Nova, nos anos 60, será assinado por seu filho, Carlos

Por Agencia Estado
Atualização:

Este é um ano bastante importante para a música nova brasileira. Um de seus maiores defensores - e criadores -, o santista Gilberto Mendes completa em outubro 80 anos, poucos meses após o Festival Música Nova de Santos, criado por ele, completar 40 anos de existência e resistência. Toda essa trajetória vai ser o tema de um documentário que será assinado pelo filho do compositor, o publicitário Carlos Mendes. "Percebi que, apesar de sua importância, ninguém conhecia direito meu pai. Resolvi então, já que tinha a faca - a experiência com a câmera - e o queijo - o parentesco - na mão, registrar sua vida e sua obra em um documentário e entregá-lo à sociedade", diz Carlos Mendes, da Panaroma Filmes. O termo "música nova" é usado para definir a composição erudita de vanguarda da segunda metade do século 20. Essa definição surgiu no célebre Curso de Férias da Música Nova, realizado em Darmstadt, na Alemanha, onde nomes como Pierre Boulez, Stockhausen e Luciano Berio apresentavam-se e compartilhavam suas idéias e conceitos a respeito da música. Lá, também, esteve Gilberto Mendes, após formar-se no Conservatório Musical de Santos. Foi em 1962, mesmo ano no qual fundou o Festival Música Nova de Santos e um ano antes de assinar, ao lado de Willy Correa de Oliveira, Damiano Cozzela, Rogério Duprat e Júlio Medaglia, o "Manifesto Música Nova". Obras como o "antijingle" (na definição de Carlos Mendes) Beba Coca-Cola, obra coral a capela com ação teatral sobre texto de Décio Pignatari estreada em 1968 pelo Madrigal Ars Viva, ou Santos Football Music, melhor obra experimental de 1974 segundo a Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA), fizeram história dentro do País. Mas foi lá fora que Gilberto Mendes conquistou o reconhecimento e o apoio que aqui lhe foram, em grande número de vezes, negados. "É triste saber, por exemplo, que a editora de suas obras é belga, que é preciso alguém fora do País editar seu trabalho", diz Mendes. Ele lecionou nas universidades de Wisconsin e do Texas, sua música já foi apresentada em Nova York, no Carnegie Hall, na Universidade de Long Island, onde ele também deu uma masterclass. Atualmente, quatro teses de mestrado estão sendo escritas sobre ele - uma nos Estados Unidos. Dez discos com obras suas já foram lançados na Bélgica, Itália, Holanda, França. No ano passado, Rimsky, peça em homenagem ao compositor Rimsky-Korsakov, estreou no mais importante festival de música russo, o da Primavera de São Petersburgo. Identificação - Mendes afirma que quer fazer um documentário que, não apenas no tema, mas também na linguagem, aproxime-se da obra do pai. "Minha intenção é que o documentário tenha a modernidade da música dele." Outra preocupação está em registrar no filme a execução de trechos de obras, a fim de tornar o documentário também em "arquivo e fonte de pesquisas" para novos compositores brasileiros. "Houve-se muito falar de várias obras dele, como Beba Coca-Cola, mas o que de fato se sabe sobre a produção dele?", pergunta. A intenção, segundo a apresentação do projeto, é gravar Santos Football Music, O Objeto Musical, Beba Coca-Cola, Asthmatour, Ópera Aberta, Ulysses em Copacabana Surfing with James Joyce and Dorothy Lamour e Poema sobre um Quadro de Orlando Marcucci. São obras que, na variedade de inspiração, de instrumentos necessários e no flerte com outras artes como o teatro, a literatura e as artes plásticas - uma delas exige até a presença de halterofilistas e pessoas aplaudindo -, mostram o espírito e a orientação do trabaho de Gilberto Mendes. Estarão presentes, também, depoimentos de artistas com que o compositor trabalhou e outros que tiveram nele a inspiração para seus trabalhos: H.J. Koellreutter, Almeida Prado, Lívio Tragtenberg, Olivier Toni, John Neschling, Júlio Medaglia, Augusto de Campos, Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Gastão Frazão, entre outros. O projeto do documentário está inscrito no Ministério da Cultura e prevê para os patrocinadores desconto de 100% no Imposto de Renda do valor investido. Além disso, o investidor é dono de 25% da prensagem inicial do DVD e, entre outras coisas, sua marca aparecerá durante a exibição do documentário na TV Cultura. O valor total do orçamento do vídeo, intitulado A Odisséia Musical de Gilberto Mendes (título inspirado em livro do compositor, lançado pela Editora da USP), é R$ 198.228,00. Serão feitos 2 mil exemplares do DVD que, além da parcela do patrocinador, serão vendidos e distribuídos em escolas e bibliotecas do Brasil e da Europa. Haverá também duas cópias em Betacam, uma para exibição na TV Cultura e outra para estréia em cinemas de Santos em São Paulo. Pôr-do-sol - "Quero mostrar a visão integrada de meu pai com relação a sua vida e a música, sua capacidade de ouvir todas as tendências musicais, desde Boulez até Richard Rodgers, passando pela bossa nova. Sua integração com outras artes, ele que é um apaixonado pelo cinema, por exemplo." Aliás, Gilberto Mendes acabou de assinar a sua primeira trilha sonora de um filme, O Dono do Mar, inspirado no livro de José Sarney, feito por Odorico Mendes, também seu filho. "Filmamos a gravação e vamos incluí-la no documentário." O vídeo, assim, quer mostrar, enfim, a paixão de Mendes pela música, "a simplicidade, o desprendimento dele com relação a ela. "Ele fez tudo pela música, mas nunca foi pretensioso com relação a ela." O que parece ser reflexo de sua atitude perante a vida. "Nunca vou me esquecer de um dia em que falava com ele pelo telefone e ele disse que precisava desligar porque ´o sol ia se pôr´." Os interessados em participar do projeto podem entrar em contato com Carlos Mendes pelo telefone (0--11) 5572-6679.

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