"A Máquina" emociona no Festival do Rio

Paulo Autran e o novato Gustavo Falcão brilham no filme de João Falcão

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Por Agencia Estado
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Inaugurado na quinta-feira à noite com a exibição do documentário Vinicius de Morais, de Miguel Faria Jr., o Festival do Rio 2005 já decolou com a apresentação de vários títulos importantes dos mais de 430 que compõem a programação. Afinal, são 23 mostras e 31 pontos de exibição distribuídos pelo Rio de Janeiro. A sede, o local das exibições especiais, é o cine Odeon BR, na Cinelândia. Na noite de sexta-feira começou a mostra competitiva da Premiere Brasil, que apresenta só filmes nacionais, entre curtas e longas, documentários e ficções (divididos em formatos e categorias específicas). A abertura foi emocionante, com o filme A Máquina que João Falcão adaptou de sua peça, baseada no livro de Adriana Falcão. O próprio diretor diz que sua peça tinha uma estrutura boa para teatro e que foi preciso mudar no cinema. Para isso, ele voltou à fonte original do livro. Depois de 2 Filhos de Francisco, com seu elenco excepcional, parecia difícil, senão impossível, que surgisse outro filme com um elenco igualmente magnífico. Bem, aconteceu, e rapidamente. Ângelo Antônio é gênio como Francisco no filme de Breno Silveira, mas aguarde para ver Gustavo Falcão em A Máquina. Gustavo é sobrinho de João Falcão e estreante em cinema. De todos os atores da montagem original, que incluía Lázaro Ramos e Wagner Moura, era o único que ainda não havia estourado. Se no dia seguinte à estréia de A Máquina o Brasil inteiro não estiver proclamando que nasceu um grande ator, algo estará errado no País. Gustavo faz o jovem Antônio, que vive no presente aventuras sobre as quais reflete, quando velho, daqui a 50 anos. O outro Antônio é Paulo Autran, que também pode ser visto no palco, em São Paulo, na peça Adivinhe Quem Vem para Rezar? Elogiar Paulo Autran parece redundância, de tanto que ele é bom. Os grandes, de qualquer maneira, conseguem superar-se. Autran é tão genial quanto Gustavo Falcão - ou é o jovem que é tão genial quanto o veterano, se for preciso priorizar. E não são só os dois - Lázaro Ramos e Wagner Moura, que fazem pequenos papéis, são ótimos e Mariana Ximenes é um show à parte, aliando talento à beleza. A Máquina talvez não seja um filme fácil, pela riqueza e complexidade de sua estrutura, que joga com múltiplas linguagens, propondo aquilo que se define como metalinguagem. O tempo, a televisão, o amor, a vida e a morte, são vários os temas propostos pelo diretor na história de Antônio, que começa na pequena cidade de Nordestina, de onde ele sai para buscar o mundo que sua amada deseja. O velho Antônio conta sua história num hospício, pois parece coisa de doido, mas fecha-se um ciclo quando ele próprio comparece no encontro que marcou consigo mesmo. Passado, futuro, a linha do tempo não tem fronteiras na fabulação que João Falcão propõe em A Máquina. É outro belo filme da Premiere Brasil, que está mostrando no Rio o melhor do cinema brasileiro na atualidade. Guerra e nudez Kelly Reilly será o destaque desta noite na sessão oficial de Senhora Henderson Apresenta. O filme de Stephen Frears conta uma história que se passa em Londres, durante a 2ª Grande Guerra. A cidade está sendo bombardeada e a senhora Henderson (Judi Dench)mantém aberto seu teatro de variedades no qual se apresentam mulheres nuas. Há o horror da guerra e a beleza das mulheres, Kelly à frente, que não têm inibição de se exibir desnudas. A atriz Kelly Reilly Tirar a roupa foi a parte fácil, Kelly explicou numa entrevista para o repórter do Estado, no 21º andar do Hotel Méridien, com a vista da praia de Copacabana ao fundo. Na parte do nu artístico, sua personagem é só exterior, como se não se movesse. Seu interior só aparece em dois momentos em que a linda mulher se fragiliza. Como Esperança e Glória, de John Boorman, Senhora Henderson opõe a fantasia à guerra. ?Stephen sabe exatamente o que quer e sabe como fazer a gente trabalhar de acordo com os planos dele?, diz Kelly. Trabalhar com Dame Judi Dench foi motivo de apreensão e honra. ?Sou muito jovem e ela é simplesmente a maior atriz inglesa. Mas Judi foi generosa comigo. Aprendo muito com ela?, explica Kelly, que sobe ao palco do Odeon BR logo mais à noite para mostrar o filme de Frears. A Premiere Brasil prossegue hoje com Achados e Perdidos, que José Joffily adaptou do livro de Garcia Roza, mas com uma particularidade. O livro narra uma aventura do policial que é o personagem recorrente do escritor carioca, Espinoza. Joffily ficou com a trama e prescindiu de Espinoza, que não faz a passagem da literatura para o cinema. O diretor, você sabe, adora os desafios. Na sua ficção anterior, Dois Perdidos numa Noite Suja, transpôs a peça de Plínio Marcos para a Nova York contemporânea e ainda transformou numa garota que se disfarça como homem o michê da trama original.

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