A 'Graça' selvagem do diretor maldito Tom Kalin

Julianne Moore interpreta Barbara Daly Baekerland, socialite inglesa assassinada em 1972

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Por Luiz Carlos Merten
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 Em vez de uma, duas sugestões para o seu programa desta terça-feira, 23. Poderiam ser A Via Láctea de Lina Chamie, que tanto sucesso fez na Semana da Crítica, em Cannes, ou então El Otro, de Ariel Rotter, que deu a Júlio Chávez o prêmio de melhor ator em Berlim, um filme brasileiro e outro argentino. Vão ser dois estrangeiros - o americano Savage Grace - Graça Selvagem, de Tom Kalin, que dialoga com a França, e o francês De Volta à Normandia, de Nicolas Philibert.   O crítico de cinema Luiz Zanin Oricchio fala sobre seus filmes preferidos da Mostra de São Paulo   Savage Grace também integrou a seleção de Cannes deste ano, mas em outra seção do festival - a Quinzena dos Realizadores. Kalin é aquilo que se pode chamar de cineasta ‘maldito’. Fez Swoon - Colapso do Desejo, contando a mesma história de Festim Diabólico, de Alfred Hitchcock, qual seja a de Leopold e Blom, que foram a julgamento, acusados de cometer um crime gratuito - eles mataram só para provar que poderiam permanecer impunes, mas o crime ‘perfeito’ foi descoberto. Kalin gosta de assuntos que são considerados, no mínimo, barra-pesada - homossexualismo, aids, crimes premeditados.     Em 1993, ele esteve em São Paulo (e no Festival de Gramado) mostrando seus vídeos sobre aids. Savage Grace baseia-se no livro de Natalie Robins e Steven M.L. Aronson, que conta a história de Barbara Daly Baekerland, socialite inglesa assassinada em 1972. Julianne Moore é a intérprete do papel. Se você precisava de só mais um filme para dizer que ela é uma das maiores (a maior?) atriz do mundo, bem, pode ser este. Barbara vive no circuito Saint-Tropez.   A história é narrada pelo ângulo de seu filho, um adolescente mimado (e bissexual), que divide o amante com a mãe - e, numa cena que necessita de uma atriz como Julianne, no fio da navalha concretiza o incesto com ela. Você pode até duvidar que Savage Grace seja uma produção independente. Afinal, Julianne Moore é uma atriz top de linha em Hollywood, mas o filme é independente, e foi feito com pouco dinheiro, o que Tom Kalin disfarça com uma inteligência na recriação de época - difícil, num período recente - que evoca os filmes de James Ivory na fase anterior às superproduções.   De Volta à Normandia é documentário, um dos melhores desta mostra que tem Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho - obra-prima absoluta, também hoje -, e S.O.S. Saúde, a nova provocação deMichael Moore, que foi a Cuba para descobrir a excelência do sistema de saúde de Fidel Castro e alfinetar o presidente George W. Bush. Há 22 anos, o jovem Nicolas Philibert foi assistente dedireção de René Allio em Eu, Pierre Rivière, Que Degolei Minha Mãe, Minha Irmã e Meu Irmão, filme rodado na Normandia, com base numa história exemplarmente dissecada por Michel Foucault.   Philibert volta agora à Normandia para entrevistar os camponeses que Allio transformou em atores. Philibert é o diretor de Ser e Ter. Como se admirar que ele tenha feito mais um bom filme?     Savage Grace. Espaço Unibanco 3: Terça, 23, 21h40. Cotação: Ótimo De Volta à Normandia. Cinemateca: Terça, 23, 18h50. Cotação: Bom

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