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A discreta subversão de uma garota chamada Juno

Comédia de Jason Reitman é o maior sucesso entre filmes indicados para o Oscar

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Obra de um jovem diretor de 30 anos, Jason Reitman - filho de Ivan Reitman -, Juno é o único dos cinco indicados para o Oscar de melhor filme a ter ultrapassado a barreira de US$ 100 milhões na bilheteria dos EUA. Sucesso de público não representa necessariamente garantia de qualidade, mas também não é porque um filme cativa a massa de espectadores que tenha de ser colocado sob suspeita. Juno trata de um tema pouco freqüente na produção teen de Hollywood, a gravidez na adolescência.   Trailer de 'Juno'   Jason Reitman pode ser jovem, mas parece ter a vocação do Oscar. Seu longa precedente, Obrigado por Fumar, cravou entre os finalistas para o prêmio de interpretação masculina um ator - Aaron Eckhart - mais ligado ao cinema de arte, graças a seus filmes com Neil LaBute. Agora, além dos Oscars de melhor filme e direção, Jason Reitman ostenta mais duas indicações importantes - a de melhor atriz, para a deliciosa Ellen Page, e a de melhor roteiro original, para Diablo Cody. Talvez, antes de falar sobre o filme, seja interessante levantar o mistério sobre esta pessoa que carrega o ‘diablo’ no nome.   Para os padrões norte-americanos de comportamento moral e social, Diablo Cody também carregava o diabo no corpo. Afinal, antes de ser roteirista ela foi dançarina de strip-tease - e a própria Diablo não apenas diz que era boa (muito boa) na função, como adorava o que fazia. Diablo é um pseudônimo que ela - Brook Busey - adotou quando resolveu criar um blog. Brook viajava com o marido para Cody, no Wyoming, e ambos ouviam no rádio uma velha canção dos anos 60, intitulada El Diablo. O nome veio daí e o sucesso do blog pavimentou sua via como escritora, consagrada pelo êxito editorial de Candy Girl, no qual ela relata suas experiências na indústria do sexo.   Diablo já assinou para criar, com Steven Soderbergh, uma série de TV, The United States of Tara, que será interpretada por Toni Collette. Chega de Diablo Cody. Vamos voltar a Juno. O filme conta a história desta garota que se descobre grávida. Em geral, as comédias teens de Hollywood tratam da elefantíase do sexo do ângulo de garotos que sonham perder a virgindade. Ellen Page, a Juno, engravida e isso a leva a percorrer uma curiosa trajetória. Para início de conversa, ela parece mais madura que os adultos ao redor, embora termine o filme celebrando sua adolescência com... É melhor parar para não entregar o ouro.   A originalidade, ou a esperteza, de Juno está na forma como o filme cria estereótipos que vai progressivamente destruindo. Juno, por iniciativa própria, resolve que vai doar o bebê. Ela escolhe o casal perfeito para a adoção, mas, como as aparências enganam, a fachada termina por ruir. Muitas cenas são divertidas - o anúncio da gravidez à família, as reações que sua barriga provoca na escola, a perplexidade do pai teen, alijado de todas as decisões. A integração da música à narrativa tem algo de A Primeira Noite de Um Homem, de Mike Nichols. E o filme é discretamente subversivo - não há recuo moral no desfecho. Pode ser excessivo para o Oscar, mas é simpático.

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