PUBLICIDADE

"A Dama na Água", clima mágico debate mundo atual

Um zelador (Paul Giammatti) que descobre uma ninfa (Bryce Dallas Howard) na piscina do condomínio de que toma conta. Esta é a história do filme.

Por Agencia Estado
Atualização:

"A Dama na Água", que estréia nesta sexta-feira, é a história de um zelador (Paul Giammatti) que descobre uma ninfa (Bryce Dallas Howard) na piscina do condomínio de que toma conta. Ao descobrir que se trata de personagem mítica, que habita uma clássica história de ninar, ele reúne os condôminos numa corrente para protegê-la e devolvê-la ao universo mágico de onde veio. É uma fábula que fala sobre o poder da narrativa, como contar histórias, a intolerância, as injustiças e a força da magia. Ninguém carrega a noite (night) nem expõe o fato de que é tímido (shy) no próprio nome impunemente. M. Night Shyamalan parece que já carregava no nome os sinais do cinema que viria a praticar em Hollywood. É o mais lunar dos grandes autores americanos e o mais metafórico, também. Ao contrário de outros, para os quais nada é o que parece, para Shyamalan tudo é, sim, verdade, mas como ele trabalha constantemente com metáforas é preciso interpretar seus sinais. Seu novo filme, "A Dama na Água", estréia sob o signo da desconfiança dos críticos. Desconfie deles. Shyamalan já devia estar prevendo o fato porque há um crítico no seu filme e nada do que ele diz faz sentido - só expõe seu preconceito. Na aparência, "A Dama na Água" é um conto de fadas perverso, para crianças que querem sentir o arrepio do medo e para adultos que não assassinaram a infância (como Shyamalan). O filme nasceu com "A Vila". O diretor, que também é roteirista dos próprios filmes, concebeu os dois simultaneamente, mas fez "A Vila" primeiro porque, na época, estava num momento sombrio e o outro filme respondia às suas questões - até onde ele iria para proteger a família? Fugiria do convívio social? Faria escolhas moralmente questionáveis? Não é que o novo filme seja propriamente otimista mas Shyamalan está mais generoso, acredita mais na esperança. A história do zelador que descobre essa estranha garota na água e ela lhe diz que é uma ninfa coloca imediatamente o tema do maravilhoso na vida cotidiana. Ela quer voltar para casa (o mais americano dos temas). Existe uma força negativa para impedir que isso ocorra. O herói vai ajudá-la e, ao fazê-lo, vai exorcizar os próprios medos. Mas ele não pode agir sozinho - precisa do grupo e nisso vai uma diferença e tanto na produção de Hollywood. O grupo é formado por párias - negros, chicanos, velhos. Tudo remete a "A Vila" - o prédio, a fera, a fragilidade da garota e a floresta circundante. Temos uma metáfora sobre a América atual, nada explícita, mas na qual tudo faz sentido. O cinema de Shyamalan coloca sempre a relatividade dos pontos de vista do narrador e do espectador. Quem conta um conto quer ser ouvido (e entendido). O zelador precisa identificar os sinais para descobrir quais o ajudarão na tarefa de preparar a garota para o vôo da águia (um símbolo dos EUA). O crítico, no filme, não lhe presta nenhuma ajuda. Ele precisa da inocência da criança. Mas a criança ainda não tem a vivência do mundo e se engana. Todo o filme é essa conversa sobre sinais. Já era assim no filme com Mel Gibson ("Sinais") que Shyamalan fez em 2002. Os sinais não se referiam aos extraterrestres, mas ao que Gibson precisava descobrir sobre sua família. Sempre os sinais - "A Dama na Água" poderia ser só um exercício, inteligente mas frio, de semiologia, essa parte da ciência que investiga os fenômenos culturais como se fossem sistemas de signos. Mas aí vem a grande cena, quando se forma a corrente em torno do corpo da garota que parece morta. O zelador diz uma oração que é para ele, para o seu renascimento, mais do que para o dela. O que se segue é absolutamente mágico. A Dama na Água (Lady in the Water, EUA/ 2006, 110 min) - Drama. Dir. M. Night Shyamalan. 10 anos. Em grande circuito. Cotação: Ótimo

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.