A bela que pode virar musa da 34.ª Mostra

Pilar López de Ayala fala de 'Lope' e do filme português que vai abrir o evento em SP

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Houve sinais indicadores. Pilar López de Ayala integrou o júri de um festival na Espanha com Leonor Silveira, a musa de Manoel de Oliveira. Conversaram muito sobre o mestre centenário do cinema português. Leonor adiantou alguma coisa sobre o novo projeto do cineasta. Pilar voltou para casa, em Madri, e assistiu a alguns filmes de Oliveira. Foi quando recebeu um telefonema do produtor, dizendo que Oliveira queria que ela fizesse a protagonista de O Estranho Caso de Angélica. Antes mesmo de ler o roteiro, Pilar disse sim. Quando leu, convenceu-se de que era um filme que ela tinha, absolutamente, de fazer.

 

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Pilar López de Ayala está no Brasil. Neste final de semana deve estar em Paraty. Ela não tem certeza de que conseguirá estar em São Paulo dia 21, para a abertura da Mostra de 2010, justamente com O Estranho Caso de Angélica. A entrevista realiza-se no pavilhão do Festival do Rio. Pilar veio mostrar para os cariocas o novo filme de Andrucha Waddington, Lope. Vieram ela e o ator que faz o dramaturgo espanhol, o argentino Alberto Amann. Ele é ‘guapo’. Causou frisson na sessão de encerramento do festival, na quarta à noite. Lope estreia em 26 de novembro, mas antes disso integra a programação da Mostra.

 

Quando subiu ao palco do Cine Odeon BR e foi intimada a dizer algumas palavras sobre Lope, Pilar agradeceu o privilégio de trabalhar com um diretor como Andrucha, "que ouve os atores e é muito educado". Andrucha improvisa bastante, e isso, ela diz, "é extraordinário para o ator, cria um espaço de liberdade para atuar que é estimulante." A experiência com Oliveira foi de outra ordem. "Ele é um controlador, tem o filme inteiro planejado na cabeça. Mas Manoel é um sábio de 101 anos. Sabe tudo de cinema e de cultura em geral. Mesmo controlando, ele reconhece o que o ator pode lhe dar, qual sua contribuição para o personagem."

 

O repórter insiste para que ela venha a São Paulo e confirme, pessoalmente, o fervor que o público da Mostra tem por Oliveira. "Lo sé. E não é só aqui. Descobri que há um culto a Manoel ao redor do mundo. É um milagre como um autor que se expressa, e filma, em português, consegue se fazer entender para plateias de todo o mundo." O que há de tão bacana em Angélica para que ela quisesse tanto estar no filme? "É uma belíssima história de amor, rica em metáforas. Interpreto uma antropófoga de almas." E como é fazer um filme ‘rico em metáforas’, como ela define? "É um pouco o contrário de Lope, que trabalha muito no plano da carnalidade. O amor de Angélica é outra coisa, não é físico."

 

Espírita. Superficialmente, o filme de Oliveira que abrirá a Mostra de 2010 pode ser incluído na onda de espiritismo que tomou conta do cinema brasileiro (e não apenas). Em Cannes, onde Angélica integrou a seção Un Certain Regard, Oliveira já havia dito que a morte é uma certeza e não lhe mete medo. O filme é sobre rapaz (Ricardo Trêpa, neto do realizador) chamado para fotografar garota que morreu. Ele fica obcecado por Angélica ao revelar as fotos e ver, não apenas que ela está de olhos abertos, mas que o mira sedutoramente. Apaixona-se. Angélica é uma devoradora de almas, como diz Pilar.

 

Em Lope, ela faz Elena Osorio, amante do dramaturgo Lope da Vega e estopim do processo que ele sofreu e o levou ao desterro. Como foi criar uma personagem real e, ao contrário de Angélica, tão carnal? "Embora seja real e existam partes da vida de Lope que são muito documentadas, a ligação com Elena tem muita coisa secreta. Inspirei-me mais na peça que ele próprio escreveu, à maneira de autobiografia, sobre o assunto, Doroteia. É uma personagem muito rica. Atingida em sua honra, ela reage contra Lope, mas sempre o salva, no limite. Para mim, é eternamente apaixonada por ele."

 

Praias. Reconhecendo estar num momento especial de sua carreira, Pilar López de Ayala só lamentava não ter tempo de conhecer o Rio - e o Brasil -, como gostaria. "Cheguei e só pude ver as praias pela janela do carro. São preciosas." Do hotel para a pré-estreia de Lope e a festa de encerramento. Do hotel para o pavilhão da entrevista. "Gostaria de ter tempo de conhecer esse País que é tão maravilhoso no imaginário da gente. A realidade sempre é outra, mas uma coisa corresponde. ‘Las gentes son muy buenas.’ Esse esquema de coprodução internacional que viabilizou Lope é muito positivo. E o Andrucha é um modelo de educação. Na Espanha, não temos diretores assim."

 

Uma maratona com mais de 400 títulos

 

Leon Cakoff realiza neste sábado, 9, pela manhã a coletiva de lançamento da 34ª Mostra em São Paulo. O evento internacional de cinema mais longevo do País começa dia 21, no Auditório do Ibirapuera, com a exibição de O Estranho Caso de Angélica, de Manoel de Oliveira, em presença do autor.

 

Durante duas semanas, de 21 a 4 de novembro, o cinéfilo paulistano terá de ter muita resistência para tentar acompanhar mesmo que seja uma parcela da Mostra. Afinal, serão mais de 400 filmes - haja fôlego. Míseros 10% deste total representam 40 filmes, quase três por dia.

 

O cartaz e as artes da 34ª Mostra são assinados por Wim Wenders, que ganha uma exposição de fotos - Lugares, Estranhos e Quietos - e ainda apresenta a versão integral de Até o Fim do Mundo, com 280 minutos de duração. Outra exposição trará os desenhos que Akira Kurosawa fazia como storyboards de seus grandes filmes. A Mostra vai abrigar o lançamento de livros sobre os dois diretores.

 

Os vencedores de Cannes (Tio Boonmee Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas, de Apichatpong Weerasethakul) e Veneza (Um Lugar Qualquer, de Sofia Coppola), do recente Festival do Rio (VIP’s, de Toniko Melo), o novo Woody Allen (Você Vai Conhecer o Homem de Seus Sonhos), todos integram a programação. A Mostra traz até o melhor filme de Cannes 2010, Minha Felicidade, de Sergei Loznitsa.

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