"2001" está de volta às telas

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Por Agencia Estado
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E não é que o ano mítico chegou? Em 1968, quando Stanley Kubrick lançou 2001 - Uma Odisséia no Espaço, o ano referido no título ainda parecia uma coisa muito distante. Aquele foi um ano especial, o do célebre maio, dos que sonhavam com a revolução, e também uma época imersa no espírito competitivo da corrida espacial. Americanos e soviéticos possuíam ambiciosos programas espaciais. O homem chegaria à Lua no ano seguinte e, dali, pensava-se que iria expandir os limites do universo. Agora que 2001 está de volta - a partir de hoje - talvez seja o caso de nos perguntarmos se o futuro imaginado por Kubrick tem respaldo na realidade. Aparentemente, não. O homem não construiu um Hotel Hilton na Lua, só investiga muito à distância as luas de Júpiter. Não existem aeromoças flutuantes, nem toaletes com gravidade zero. A verdade é que 2001 chegou e o futuro imaginado por Kubrick não se concretizou. Pode ser que ocorra em dez, 20, 50 anos. Kubrick pode ter errado a data, mas as indagações do seu clássico permanecem intactas. E 2001 não é a série Guerra nas Estrelas, divertida, por certo, mas George Lucas inventou a mania dos blockbusters e instituiu o merchanding no cinema. Kubrick era um pensador. Ligou-se a outro visionário, Arthur C. Clarke, para propor não apenas um dos enigmas mais fascinantes do cinema - o que significa o monolito negro -, mas também para lançar outras interrogações que ainda não foram respondidas. A grande pergunta que percorre 2001 refere-se à própria natureza humana, à própria condição do homem. O que somos nós, o hiato entre dois nadas, a que se referia Nietszche, ou a criação suprema? Toda a grandeza do filme de Kubrick decorre dessa pergunta que não quer calar. E o filme continua deslumbrante, na forma. O corte que faz a narrativa avançar da pré-história para o século 21 - uma elipse de quatro milhões de anos - continua desconcertante. O macaco pega o osso, atira-o no ar e ele vira a nave que gira no espaço sua valsa imortal. Mais de um crítico já viu, nessa cena inicial, algo como uma anunciação. É só um dos mistérios do filme. Kubrick estabelece a relação entre o macro e o microuniverso. Propõe uma nova realidade espacial que só pode se resolver por meio da viagem interior do astronauta, quando ele desliga Hal-9000, o computador que endoidou numa misteriosa missão rumo a Júpiter. Os mistérios sucedem-se - o do monolito negro, que Hollywood quase banalizou em 2010, o Ano em Que Faremos Contato, de Peter Hyams, o daquele show de luzes psicodélicas quando a nave, enfim, entra nos anéis de Júpiter, o daquele décor todo branco em que o astronauta, no desfecho, deita-se como um velho e regride até renascer como feto na barriga do universo. Talvez aquele feto fosse o do admirável homem novo sonhado pelos utopistas de 68. O espírito da época impregna a obra-prima de Kubrick. Nunca houve uma ficção científica com a riqueza e complexidade filosófica desta. 2001 - Uma Odisséia no Espaço (2001 - A Space Odyssey) - Aventura. Direção Stanley Kubrick. Ing/68. Market Place Cinemark 1, às 22 horas (domingo fecha às 16h30 e reabre na segunda, às 14 horas). Sala UOL, às 17 horas. 12 anos

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