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Zé do Caixão assombra em Veneza

Mojica Marins, Bressane e co-produções marcam a presença do Brasil no Lido

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

E quem vai adentrar triunfalmente o Lido de Veneza este ano? Ninguém menos que José Mojica Marins, o Zé do Caixão, que terá seu novo filme, Encarnação do Demônio, exibido na sessão da meia-noite, fora de concurso, no 65º Festival de Veneza, que se inicia dia 27 de agosto. ''Realmente..., fiquei um pouco surpreso; já tinha ido a vários outros festivais, mas Veneza, junto com Cannes e Berlim, é um festival classe A'', disse Mojica ao Estado. E garantiu que estará no Lido, devidamente caracterizado como Zé do Caixão. ''Acho que eles terão uma surpresa, tanto com o filme como com o personagem'', diz. Zé do Caixão não será a única presença brasileira no Lido. Julio Bressane, um habitué do festival, esteve em edições anteriores com Dias de Nietzsche em Turim e Cleópatra, lá estará de novo, agora em parceria de direção com sua mulher Rosa Dias, com A Erva do Rato, tendo Selton Mello e Alessandra Negrini no elenco. Há ainda mais: a empresa dos irmãos Caio e Fabiano Gullane, que produziu o novo Zé do Caixão, entra com duas outras produções na mostra principal, a Venezia 65, na qual se disputa o cobiçado Leão de Ouro: Plastic City, dirigido pelo chinês Yu Lik-Wai; e Birdwatchers, do ítalo-argentino Marco Bechis (o mesmo de Garagem Olimpo). Se um dos dois vencer, poderemos dizer que o Brasil finalmente terá ganho um Leão de Ouro? É matéria para debate. Mas, para Fabiano Gullane, a resposta é afirmativa: ''Não tenho dúvida de que, nesse caso, será uma vitória para o cinema brasileiro'', diz. ''Os produtores brasileiros evoluíram muito nos últimos anos, e isso se refletiu no aperfeiçoamento da direção, dos roteiros, do acabamento dos filmes'', afirma. Isso posto, cabe perguntar sobre a natureza desses filmes que disputam o Leão de Ouro. Ambos são 100% rodados no Brasil. Em Plastic City, os Gullanes têm 60% do capital, os outros 40% divididos entre China e Japão. O elenco é misto, com participação dos brasileiros Tainá Muller, Antonio Petrin, Milhem Cortaz, entre outros. Na metade do tempo, o filme é falado em português; em 40%, em chinês, e 10% em inglês. ''Vamos combinar: é um filme globalizado'', diz Fabiano, rindo. E é mesmo, o que não impede que a parte nacional tenha entrado através das leis de incentivo. Já Birdwatchers, que no site do festival aparece unicamente como italiano, parece ainda mais brasileiro que o anterior. O seu tema é a destruição cultural e física da etnia dos guarani-caiovás e, em parte, interpretado pelos próprios índios, que foram preparados pelo ''coach'' Luis Mário, o mesmo que se ocupou dos meninos de Querô, de Carlos Cortez. Também inclui atores italianos e brasileiros conhecidos, como Claudio Santamaria e Chiara Caselli, Leonardo Medeiros e Matheus Nachtergaele. Foi rodado em Mato Grosso e é falado unicamente em guarani e português. Acontece que a Itália tem 80% do capital e o Brasil apenas 20%. Portanto, antes de torcer, ou festejar, teremos de voltar a essa questão insistente e indigesta - o que é um filme nacional no mundo globalizado? Mostra Oficial THE WRESTLER, de Darren Aranofsky (EUA) THE BURNING PLAIN, de Guillermo Arriaga (EUA) IL PAPÀ DI GIOVANNA, de Pupi Avati (Itália) BIRDWATCHERS, de Marco Bechis (Itália) L''AUTRE, de Patrick Mario Bernard e Pierre Trividic (França) HURT LOCKER, de Kathryn Bigelow (EUA) IL SEME DELLA DISCORDIA, de Pappi Corsicato (Itália) RACHEL GETTING MARRIED, de Jonathan Demme (EUA) TEZA, de Haile Gerima (Etiópia, Alemanha, França) PAPER SOLDIER, de Aleksei German Jr. (Rússia) SÜT, de Semih Kaplanoglu (Turquia, França, Alemanha) ACHILLES AND THE TORTOISE, de Takeshi Kitano (Japão) PONYO ON CLIFF BY THE SEA, de Hayao Miyazaki (Japão) VEGAS: BASED ON A TRUE STORY, de Amir Naderi (EUA) THE SKY CRAWLERS, de Mamoru Oshii (Japão) UN GIORNO PERFETTO, de Ferzan ?zpetek (Itália) JERICHOW, de Christina Petzold (Alemanha) INJU, LA BÊTE DANS L''OMBRE, de Barbet Schroeder (França) NUIT DE CHIEN, de Werner Schroeter (Fr., Al., Port.) GABBLA (INLAND), de Tariq Teguia (Argélia, França) PLASTIC CITY, de Yu Kik-wai (Brasil, China, Hong Kong, Japão)

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