Wii

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Por Matthew Shirts
Atualização:

Começamos o ano de 2009 com um aparelho novo em casa: é o Wii, a última palavra em videogames da Nintendo. Vou tentar descrevê-lo em poucas palavras para quem ainda não o conhece. A grande inovação é que as imagens, na tela da TV, respondem aos movimentos físicos dos jogadores. Durante a luta de boxe, por exemplo, dão-se socos no ar até derrubar o oponente... na tela. A princípio não há nenhum contato físico. Apenas a simulação dele. Nas partidas de tênis, o controle vira um raquete e é preciso acertar a bola, virtual, também no espaço físico em torno de cada "tenista". Um dos resultados práticos desta inovação é que os jogadores ficam pulando, se contorcendo e dando golpes e raquetadas na sala, diante da televisão. Para quem assiste à cena de alguma distância é cômica a cena. As pessoas adquirem ares de malucos embarcados numa fantasia distante e coletiva. Não sou especialista na pós-modernidade, mas me parece que, com o Wii, alguma fronteira foi ultrapassada, entre o mundo virtual e o real. Piloto videogames desde os clássicos Space Invaders e Donkey Kong, nos tempos da faculdade. Cheguei a editar revistas especializadas no assunto no início nos anos 90 (Supergame, Gamepower, Supergamepower). Mas isto é um pouco diferente. Para dizer a verdade, já conhecia o Wii, da casa do meu pai, na Califórnia. Apesar dos seus setenta e tantos anos, ele é o que se chama, em inglês, de "early adopter". Não pode ver uma nova tecnologia, sobretudo na área de diversão e jogos, sem adquiri-la. Comprou um Wii logo que saiu faz uns 20 meses. Mas na casa dele, até onde me lembro, o Wii servia basicamente para jogar golfe. Como sou péssimo no golfe, seja no mundo virtual ou no mundo real (pior), acabei saindo de lá da casa dele sem entusiasmo pelo aparelho. Bem que ele falou, na ocasião, "filho, esta vai ser uma revolução", ou algo do gênero. Mas eu não lhe dei a devida atenção. Reconheço isso hoje, dois anos depois, agora que o tio Rodrigo trouxe um Wii para meu filho caçula Samuel, de 5 anos, dos Estados Unidos e fui obrigado a me submeter a horas de treinamento. O que me fascina não é tanto o fato de os jogadores serem obrigados a se movimentar, embora esta seja uma faceta bacana. É o investimento em dinheiro e horas nerd-design - numa tecnologia cuja finalidade é aprimorar a experiência do narrador em primeira pessoa. Cada videogame conta uma história. Pode ser a de uma luta de boxe ou de uma viagem através do espaço imaginário, como no primoroso Mario Galaxy. A principal distinção entre o game, de um lado, e a televisão ou um livro, de outro, é que o jogo permita que seja você mesmo o "escritor". Suas habilidades e escolhas narrativas determinam o curso e resultado final de cada história (partida). Todo videogame faz isto. O Wii dá ao "autor" ferramentas novas. Aproxima o jogador da história, narrada numa primeira pessoa quase física. Sócrates, o filósofo, desconfiava dos livros por estes serem pouco interativos. Sempre achei que ele teria gostado dos videogames se vivo estivesse. É provável que adquirisse um Wii. Minha única preocupação é que os jovens mostram mais habilidade nesta forma narrativa do que os adultos. Meu filho Lucas, de 24 anos, é melhor nos jogos de computador do que eu, mesmo os de história, como Medal of Honor, situado na Segunda Guerra Mundial, um tema do meu interesse. No Wii, nem se fala. Perco até para o Samuel. Meu consolo é que continuo melhor na leitura de livros. Não sei por quanto tempo.

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