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Volta o pós-punk de peso do Gossip

Banda usa sample do Kiss e não dá crédito, em seu novo álbum, Music for Men, o primeiro por uma major, a Sony Columbia

Por Jotabê Medeiros
Atualização:

Ao ser contratado pela poderosa Columbia em 2007, o antigo fundador da Def Jam Records, o barbudo Rick Rubin - que parece o Hagrid de Harry Potter - foi tratado pelo New York Times como o único cara capaz de salvar a poderosa indústria da música. Ouça trecho da faixa 2012, do álbum 'Music For Men', do Gossip Jack White e seu novo supergrupo Logo ao chegar, Rubin decidiu que a primeira banda com a qual assinaria contrato era o grupo pós-punk Gossip, liderado pela rotunda americana Beth Ditto, de Searcy, Arkansas - o "Cinturão da Bíblia" americano, a terra que inspirou o "drama" de Footloose. E é assim, produzida pelo patrão (que também produziu discos dos Beast Boys e de Johnny Cash), que a banda indie mais desbocada do verão de 2007 virou a produzida banda mainstream de 2009, estreando com o disco Music for Men (Sony Music). Beth Ditto, a líder do Gossip, homossexual assumida, pesa cerca de 100 quilos. É a Dona Redonda do rock, com um detalhe: orgulha-se de sua condição, não tem intenção de fazer regime. Já até lançou uma linha de moda para Evans e New Look, tornando-se uma referência fashion acidental (as garotas gostam de copiar as coisas que ela veste). Music for Men abre com a faixa Dimestore Diamond, sob um baixo funk tirado de um brechó musical, e que fala de uma garota da era da customização, que faz suas próprias camisetas e corta o cabelo sozinha em casa. Beth Ditto assume o papel de líder geracional e se diz em busca das coisas que têm um "brilho real". Heavy Cross, que vem a seguir, lembra uma mistura de Madonna com Gloria Gaynor com house de Chicago. Lembra muito outra canção anterior do grupo, Standind in the Way of Control. É certamente um candidato a superhit de rádio, o que demonstra claramente a intenção de Rick Rubin: tornar o rock alternativo palatável para multidões, e acomodar seus ídolos ao novo conceito de multidão. Mais acelerada, 8th Wonder termina com uma saraivada de guitarras bastante convincente. O sintetizador que dá a senha para Long Love Distance encontra Beth Ditto mergulhando numa terra que nunca conheceu, o synth-pop dos anos 1980, território de Fly Robin Fly, ela encarando o papel de uma sucedânea de Cyndi Lauper que cometeu "carbocídio" (para lembrar uma piada insana do filme Brüno). O climão passadista ressurge com a dance-punk Pop Goes the World, com um certo sabor de Lady Marmelade. Vertical Rhythm também segue nessa linha, mas o peso e a voz de Beth dão as coordenadas para o século 21. O funk volta a dar as cartas em Men in Love. "Dance, como se ninguém estivesse olhando/Dance, como se estivesse me seguindo/ Dance, como se soubesse o que está fazendo." Pule For Keeps, que é meio chatinha, e vá direto a 2012. Aí, Beth a Fofa brinca, no meio da música, com I Was Made for Lovin? You, Baby, do Kiss - o problema é que o grupo não dá crédito aos autores no encarte do álbum. Four Letter Word, salpicada de synths, tira definitivamente de Beth toda a aura de gorditcha ameaçadora - ela não parece muito diferente de uma dessas Miley Cirus/Hannas Montanas que proliferam por aí, apesar da embalagem vintage. Tossindo, ela inicia Spare me from the Mold, voltando brevemente às raízes punks. "Cometi os erros certos, e sei o que quero dizer", canta Beth. Brace Paine (guitarras) e Hannah Bille (bateria) fazem uma sessão CBGB bem bacaninha. Alexis Petridis, do Guardian, escreveu que é inversamente proporcional a relação entre o tamanho da celebridade de Beth Ditto e a qualidade de sua banda. Celebridade é a obsessão da hora. O grupo fez um disco bacaninha em 2006, Standing in the Way of Control. Mas sua líder se mostrou hábil em se postar como a nova diferença. O novo disco não é propriamente uma revolução, mas encontra seu espaço com ginga e balanço na cena do pop mundial. Arctic Monkeys Produzido por Josh Homme, do Queens of the Stone Age, o novo CD dos ultrabombados (em 2007) Arctic Monkeys chegou. É sintomática a presença de Homme: há um novo peso e pegada no som da banda em Humbug (Domino Records). A engrenagem sugou e expeliu precocemente a banda de Sheffield. Mas é uma bela banda, e Humbug reafirma isso. O álbum abre com uma canção fraca, The Propeller, mas vai encorpando. O single Crying Lightining encontra Alex Tuner cantando com grande segurança. Há peso, velocidade e confiança em Potion Approaching. Baladas rocker como Fire and the Thud vão encaminhando o Arctic Monkeys para o seu lugar de digna garage band do mundo. Muse Assim como o Keane, a banda inglesa Muse é um genérico de qualidade, que se mostra especialmente no palco. The Resistance, o novo álbum do Muse, chega às lojas agora em setembro e reafirma o mesmo - um grande falsetto do cantor Matt Bellamy, bom time de instrumentistas e a órbita na área de atração gravitacional do Radiohead. The Resistance, a faixa-título, sob piano e guitarra heavy, trai uma vontade de ser Queen, de ser Freddie Mercury. Uprising acelera, e a bateria afoga essa grandiloquência de rock progressivo. Há muita pretensão em Exogenesis: Symphony Part 1 e Exogenesis: Symphony Part 2, mas pretensão não é o problema - todos são pretensiosos nesse ramo. É a falta de abordagem original. The Script Você gostaria de saber como seria se Sting tivesse 25 anos e não se houvesse alfabetizado musicalmente? Basta ir à sexta música do álbum de estreia da banda irlandesa The Script (Sony), Rusty Halo. Incrível parentesco, e o garoto Danny O?Donaghue canta realmente bem (tem horas que parece o James Blunt), mas as composições são sofríveis e a fusão de hip hop com soul celta é de matar. A gravadora os vende como uma mistura de "U2 com Timbaland, Van Morrison remixado por Teddy Riley", mas o fato é que o R&B irlandês do Script segue um roteiro fajuto, que - por ironia do destino - pode até se tornar grande sucesso mundial. Canções como The Man Who Can?t Be Moved são raquíticas.

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