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Virgínia Rodrigues: canções de amor ao lado do piano

Cantora radicaliza ao dividir Recomeço só com as teclas de Cristóvão Bastos

Por Lauro Lisboa Garcia
Atualização:

A voz operística da baiana Virgínia Rodrigues já dramatizou até sucessos de carnaval de seus conterrâneos da axé music. Ela também já mergulhou, convincentemente, nos clássicos afro-sambas de Baden Powell e Vinicius de Moraes em Mares Profundos. Seu quarto álbum tem o sugestivo título de Recomeço (Biscoito Fino). "Meus outros discos foram lançados pela Natasha, para onde Caetano Veloso me levou. Este é o primeiro por uma outra gravadora e acho que a partir desse trabalho é que vou saber se minha carreira existe ou não. Por isso coloquei esse título", diz a cantora. Virgínia, que até aqui se voltou mais para o cancioneiro ligado à negritude brasileira, agora radicalizou de outra forma. Decidiu gravar 11 canções sentimentais acompanhada apenas do piano de Cristóvão Bastos, sem que para isso tenha mudado a forma de interpretar. "Não importa se você está falando de amor, de tristeza ou protestando contra alguma coisa, para cada uma há uma carga de emoção." A cantora diz que esse projeto de voz e piano estava enraizado nela havia muito tempo. "Mas é aquele tipo de coisa que você vai empurrando pra frente, ou porque tem medo ou porque acha que ainda não é hora. A oportunidade veio agora", diz a mezzo-soprano. "Já tinha feito algumas coisas só com voz e piano quando cantava em corais e casamentos", lembra. A canção que abre o CD é uma célebre e pungente parceria do pianista com Chico Buarque - Todo o Sentimento -, que já ganhou registros de Elizeth Cardoso, Ney Matogrosso e Maria Bethânia, entre outros. Canção de Amor (Elano de Paula/Chocolate), A Noite do Meu Bem (Dolores Duran), Beatriz (Edu Lobo/Chico Buarque), Por Toda a Minha Vida e Estrada Branca (ambas de Tom Jobim e Vinicius de Moraes) também foram gravadas por intérpretes de forte personalidade, como Elis Regina, Ângela Maria, Maysa, Zizi Possi, Milton Nascimento, além de Elizeth. Do repertório de Simone, ela deu novos ares para Alma (Sueli Costa/Abel Silva) e pinçou raridades de Francis Hime e Vinicius (Eu te Amo, Amor), Novelli e Cacaso (Triste Baía da Guanabara), Guinga e Paulo César Pinheiro (Porto de Araújo). Sem se prender a referências de seus antecessores, Virgínia imprime sua marca em cada uma das canções. "Cada intérprete sente a canção de maneira diferente, não suporto essa palavra referência. Interpretação é uma coisa muito pessoal." Algumas dessas canções são desafiadoras para qualquer intérprete, mas ela não se intimidou diante da situação, embora considere difícil cantar música popular em português, especialmente a brasileira. "Os afro-sambas de Baden e Vinicius também são difíceis, dissonantes pra caramba, mas para aquele disco tive mais tempo de estudar e, ao contrário do que as pessoas pensam, cantar com orquestra, com um monte de instrumento te cobrindo, é muito fácil." Para dar "cobertura", nos shows de lançamento que passaram pelo Rio e Salvador e chegam a São Paulo nos dias 29 e 30 (no Sesc Pompéia), além do piano de Itamar Assiére, ela tem o violoncelo de Iura Ranevsky e a percussão de João Bani. Antes, no dia 20, Virgínia canta na Catedral da Sé, para celebrar o Dia da Consciência Negra.

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