PUBLICIDADE

Vida prolongada do Monty Python

Remanescente da trupê, Eric Idle preserva nome do grupo desfeito há 25 anos e agora o leva à web

Por Douglas Quenqua
Atualização:

Faz 25 anos que o Monty Phyton deixou de ser uma trupe de comédia atuante - o filme O Sentido da Vida, lançado em 1983, foi seu canto de cisne - mas isso não impediu que um antigo membro tentasse convencer o mundo de que o Python, como o papagaio de seu antigo esquete, estava apenas descansando. Durante décadas, Eric Idle assegurou que o nome Monty Python continuasse honrando livros, DVDs, turnês de concertos, um espetáculo na Broadway, toques de telefone e videogames. Agora ele está ajudando a levar o Monty Python para a internet. O Pythonline.com, uma rede de relacionamento e playground digital, oferece clipes de materiais antigos que as pessoas podem usar para fazer as próprias montagens, talvez inserindo seu próprio bichinho de estimação na cena do coelho assassino de Monty Python em Busca do Cálice Sagrado. A homepage tem um formato de blog com notícias sobre os Pythons sobreviventes; por toda parte há salas de bate-papo e fóruns de discussão. A participação é gratuita. Idle é uma força motriz por traz do site, embora seu papel só possa ser descrito, bem, como algo completamente diferente. "Eu escrevo sobre futebol para eles ocasionalmente", disse ele, rindo. "Achei que era a coisa mais bizarra que poderia fazer." Apesar do charme e da graça contínuas de Idle, o conteúdo do site não é muito engraçado. Os fóruns de discussão tendem para comentários como "Feliz Aniversário, Eric!". Os clipes clássicos, que são familiares, estão agora disponíveis no YouTube, onde eles ficam mais acessíveis a pessoas mais jovens para as quais eles são frescos e hilariantes. Os outros Pythons - John Cleese, Terry Gilliam, Terry Jones e Michael Palin - não atuam no site do Python. (Graham Chapman, o sexto Python, morreu em 1989.) Cleese foi o único que aceitou comentar sobre o empreendimento digital, dizendo que estava "vagamente consciente" do Pythonline, mas não tinha a intenção de contribuir. Por diversas vezes, Idle tentou montar o Pythonline.com nos anos 90, mas em todas deixou o projeto de lado. "Era como Sísifo", disse ele. "Toda manhã havia uma outra montanha para empurrar a pedra para cima." Em 2007, ele assinou uma parceria com a New Media Broadcasting Company, uma pequena empresa de Glendale, Califórnia, para operarem conjuntamente o Pythonline. O site está em regime de teste em versão beta desde o primeiro semestre e em breve será oficialmente aberto, disse Scott Page, presidente-executivo da New Media Broadcasting. Page disse que o canal Python no YouTube registrou 4,5 milhões de assistências de vídeo e 52 mil assinantes nas primeiras duas semanas. As encarnações anteriores do Pythonline eram estáticas, disse Page, "uma coisa que você via o conteúdo, mas não podia participar". Desta vez, disse ele, "não se trata apenas de olhar, trata-se de participar, de todos se envolverem". A New Media Broadcasting pretende tornar o Pythonline lucrativo com a receita publicitária e assinaturas pagas, embora a companhia esteja atualmente bem de vida com financiamentos privados "substanciais", segundo Page. A missão da empresa é gerir sites em que artistas possam se comunicar diretamente com seus fãs. Embora o Monty Python já tenha deixado uma marca duradoura na internet - os e-mails indesejados conhecidos como spam receberam este nome de um esquete do Python - os puristas dizem que é impossível manter o material original tão vibrante quanto ele foi um dia. Nos anos 70, quando o grupo britânico apresentou à América as maneiras esquisitas de andar, os bobalhões da classe alta e a Lumberjack Song, o Python teve um público intelectual seleto que se orgulhava de compreender o humor que havia sido incubado em Oxford e Cambridge. Mas os fãs mais velhos se queixam de que o Python fica mais aguado em cada nova repetição. As pessoas que riam da lição de gramática latina em A Vida de Brian, em 1979, poderiam se retrair com Spamalot, o espetáculo da Broadway que traduz o filme de 1975 Monty Python em Busca do Cálice Sagrado para um público de massa. (Simbolicamente, o espetáculo da Broadway, cuja temporada se encerra em 18 de janeiro, é estrelado por Clay Aiken, famoso de American Idol.) Idle, que vive em Los Angeles, tornou-se o portador de fato do bastão do grupo no fim dos anos 90, quando começou a escavar seu catálogo e reembalar material antigo, freqüentemente com um piscar de olho cúmplice, como em seu tour de 2000, Eric Idle Exploits Monty Python. "Tentei parar por 10 ou 15 anos, mas o problema do Python é que ele é um pouco como ser um Beatle", disse ele, por telefone. "Você não pode recomeçar." Até agora, seus maiores sucessos pós-Python são Sparmalot, que recebeu um prêmio Tony como melhor musical da Broadway em 2005, e um tour de concertos de 2007 baseado em A Vida de Brian chamado Not the Messiah (He?s a Very Naughty Boy). Atualmente, ele está trabalhando num livro sobre os tempos de estrada do Python e uma comemoração, no próximo ano, do 40º aniversário do surgimento do grupo. "O que temos é uma marca, uma franquia", disse ele. "Nós criamos esse nome que existe, e todo o mundo sabe o que ele significa e nós deveríamos ser gratos aos seres mais jovens que éramos por possuí-lo." Como os membros originais do grupo detêm os direitos da maioria do catálogo do Monty Python, cada um deles continua recebendo royalties das produções de Idle. "O restante de nós não está terrivelmente interessado, mas somos muito gratos ao Eric por estar fazendo isso", disse Cleese, um Python original que mencionou um divórcio caro como uma razão para apreciar a entrada constante de royalties. Mas ele disse: "Seria terrivelmente tedioso para mim voltar a fazer algo que fiz há 35 anos." (Dito isso, ele observou que seu projeto atual era uma adaptação musical para o palco de seu filme de 1988, Um Peixe Chamado Wanda.) O público claramente não compartilha o cansaço de Cleese com o Python. Sparmalot, segundo a revista Variety, arrecadou US$ 162 milhões desde sua estréia em 2005, sem contar as produções itinerantes. "Aqui isso não pára nunca", disse Idle sobre o Python nos EUA. "Está na televisão o tempo todo, e as pessoas sabem tudo de trás para diante e de diante para trás. Todos aprenderam O Cálice Sagrado na faculdade como se fosse um texto. Não há uma faixa demográfica que não tenha se divertido com o Python, o que me parece curiosamente bizarro." Embora Idle tenha se mostrado adepto de extrair dinheiro do Python, alguns questionam que existe um preço para o legado do grupo. "Quando se consegue obter um protetor de tela Monty Python, ele deixa de ser o que o Monty Python era", disse Robert J. Thompson, diretor fundador do Bleier Center for Television and Popular Culture da Universidade de Syracuse (e um enorme fã do Python quando estava no colegial). Quando o Pythonline fizer oficialmente sua estréia, ele competirá pela atenção com CollegeHumor.com e FunnyOrDie.com. O Monty Python teve "um enorme ressurgimento recentemente com a geração de comédia de Will Ferrell", disse Sam Reich, diretor de Conteúdo Original do CollegeHumor.com. "O esquete em geral voltou em grande estilo graças à internet - esquete funciona online." Os fãs não devem esperar muito material novo de Idle. Aos 65 anos, ele não é "o tipo de cara YouTube, Facebook", e prefere passar seu tempo escrevendo canções. "Eu apareço de tempos em tempos e os visito e encorajo, mas não poderia mais fazer isso", disse Idle. "É simplesmente chato demais." TRADUÇÃO DE CELSO MAURO PACIORNIK

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.