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Vertigem numa pista de skate

O Mundo sobre Rodas vai reviver sonho de 4 pioneiros desse esporte no Brasil

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Madonna, como a popstar, é o nome de uma manobra básica do skate. Se você quiser ver o mundo sobre rodas e não puder executar uma boa Madonna, digamos que estará frito, ou pelo menos com problemas. Um Sean Penn, ou uma Sedan Penn - afinal, trata-se de outra manobra -, é, reconhecidamente, mais difícil. Por que essas manobras têm esses nomes? Daniel Baccaro não sabe responder, mas essa talvez seja uma das raras questões do mundo do skate para a qual ele não tem resposta. Baccaro sabe tudo sobre o esporte. Há cinco anos ele convive com esse universo, realizando o documentário O Mundo sobre Rodas, uma parceria entre a Goma Filmes e a Miravista, o braço brasileiro de produção da Buena Vista. Baccaro conversa com o repórter do Estado nesse misto de loja, pista de skate e café no Itaim. São mais ou menos 5 horas da tarde e ele fez uma pausa nas filmagens para essa conversa. É o último dia das filmagens e as duas pistas da casa, as duas ?piscinas? - em formato de feijão, como ocorrem ser as pistas de skate - estão sendo ocupadas pelo ás Cristiano Mateus, que também é dono do espaço. Cris, como é chamado, executa manobras arriscadas. Looping, meio looping é com ele mesmo. A fumaça do gelo seco produz um efeito meio irreal no set. Pelas fotos, você pode imaginar a sensação do repórter, ao se transportar para esse mundo típico de HQs. Quando decidiu virar skatista profissional, Cris foi chamado de louco. "O skate era a via de escape para a minha rebeldia", ele admite. O rebelde ajustou-se? Além de todos os prêmios que ganhou em competições nacionais e internacionais, ele é hoje empresário, e bem-sucedido, num ramo que atrai os jovens, os descolados, os ?hypes?. E Cristiano é a prova viva da tenacidade humana. Ao vê-lo executar todas aquelas manobras - e ele as repete inúmeras vezes, para a câmera -, você talvez não acredite, mas em 2002, em Porto Alegre, ele sofreu um grave acidente de carro. Sofreu cinco fraturas no fêmur, teve três costelas quebradas e - pior - diziam que ele ?talvez? conseguisse voltar a andar, mas skate nunca mais. Não se desiste assim do sonho de uma vida. Ele perseverou, e triunfou. Na origem de O Mundo sobre Rodas está o sonho do diretor Baccaro e de feras como Cristiano Mateus de resgatar a história da lendária pista da Ultra, que, em São Paulo, há mais de 20 anos, virou uma referência fundamental. Foi ali, na maior half-pipe do País, a mais desafiadora pista de skate vertical do Brasil - tantos adjetivos -, que surgiram as primeiras feras do skatismo profissional do País. Foi ali que quatro garotos iniciaram uma verdadeira revolução do esporte, no País. Além de Cris, Bob Burnquist, Lincoln Ueda e Sandro Dias. Burnquist vive hoje na Califórnia, a Meca e a Medina do skate - como o Havaí é o sonho de todo surfista que se preze -, onde várias cenas foram filmadas (na pista que ele possui). O skate é uma cultura urbana, é como pegar onda no asfalto. Skate e surfe estão muito mais ligados do que o leigo pensa, reflete o diretor. O documentário de Daniel Baccaro resgata e presta homenagem ao espírito desses (jovens) pioneiros. "O filme conta a história do skate brasileiro nestes 20 anos. Por meio de entrevistas, material de arquivo e exibições filmadas em pistas do Brasil e dos EUA, registramos a passagem da marginalidade para a fase ?pop?. O skate tem hoje espaço na grande mídia, seus atletas são respeitados. É essa história de transição que queremos contar." Entre arquivo e cenas filmadas, a produção reuniu mais de mil horas (mil!), que estão sendo reduzidas para cerca de 2 horas, a duração de um programa normal. Do skate de rua às pistas de competição, os quatro focalizados realizaram seu sonho, mas muitos outros garotos desistiram pelo caminho, pressionados pelos pais, pela sociedade. A ideia é lançar no ano que vem, talvez no começo do ano, como programa de verão. As fotos que ilustram a edição são para dar um gostinho. Valem por dez mil palavras. Se Baccaro conseguir reproduzir a vertigem que o repórter sentiu no set, rente àquela pista, O Mundo sobre Rodas poderá virar obra de culto. Como a pista da Ultra, onde tudo começou.

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