Várias culturas em um só lugar

Nos arraiais maranhenses, manifestações de indígenas, africanos e portugueses estão lado a lado

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Por Evelyn Araripe
Atualização:

Esqueça o forró e a quadrilha. No Maranhão, os festejos juninos são marcados por manifestações culturais que mesclam as culturas negra, indígena e portuguesa. Ao som de matracas, zabumbas, clarinetas e saxofones, as chamadas brincadeiras abusam de movimentos de dança, ritmos diferentes, roupas brilhantes e adereços. Tudo para contar histórias sobre a colonização, a escravidão e até os causos dos índios. As ruas se enchem de luzes e cores, as noites se confundem com os dias e os sons se misturam. Cada esquina parece anunciar algum festejo. Entre as danças típicas - como tambor de crioula, bambaê de caixa, cacuriá, tambor de mina e dança da fita -, o bumba-meu-boi surge como a principal manifestação folclórica da região. É o boi que vai reger todos os bailados e fazer as noites maranhenses serem consideradas por muitos as mais belas do País no mês de junho. Que o diga a capital do Estado, São Luís. A temporada na cidade começa com a Festança do Boi da Lua, realizada há dez anos para homenagear os santos juninos e exaltar as raízes culturais do Maranhão. Durante as comemorações, o bumba-meu-boi é apresentado em seus diferentes estilos e formas de dançar. Uma das histórias mais tradicionais é o Auto de Pai Francisco (leia quadro ao lado), que narra as desventuras de um escravo que mata o boi mais belo de seu amo para satisfazer o desejo da mulher amada, que está grávida. Neste ano, a festa ocorre no dia 12 de junho e deve reunir milhares de pessoas. Oportunidade única de participar das brincadeiras maranhenses. No embalo dos sons e das cores, os sabores ficam por conta de pratos típicos da culinária junina local, como o arroz de cuxá - cozido com vinagreira e camarões -, o mingau de milho (na verdade, uma espécie de canjica) e o famoso pé de moleque, doce comum nos arraiais do Brasil, mas que no Maranhão parece mais saboroso. SOLIDARIEDADE Os convidados viram a noite da Festança do Boi da Lua comendo e bebendo à vontade, ao som das toadas dos grupos Boi de Morros, Boizinho Barrica, Unidos de Santa Fé, Boi de Maracanã e de um batalhão de matracas que parecem formar um som já natural no Maranhão. Os ingressos para a festa estão sendo vendidos desde o início de maio em algumas lojas de São Luís. O dinheiro arrecadado vai financiar obras sociais no Maranhão, Estado que teve alguns pontos destruídos pelas chuvas nos primeiros meses do ano. Depois de o dia amanhecer, o bumba-meu-boi e outras brincadeiras juninas seguem para o Arraial do Maranhão, onde 150 mil pessoas continuam a festejar até o dia 29 de junho, celebrando o casamenteiro Santo Antônio, o animado São João e o protetor São Pedro. No dia 30 de junho, a cidade de São Luís tem festa do nascer ao pôr do sol, com o Dia do Brincante de Bumba-meu-boi, com direito a feriado municipal. Afinal, moradores e turistas não podem perder o típico encontro dos bois, no bairro João Paulo. É quase um mês inteiro dedicado ao que o povo do Maranhão chama de "São João da Maranhensidade". Festança do Boi da Lua: 12 de junho, a partir das 21h, no Armazém Paraíba, Bairro Renascença. Ingressos a R$ 80 Arraial do Maranhão: de 19 a 29 de junho, a partir das 19h, no Armazém Paraíba, Bairro Renascença. Site: imirante.globo.com ENTENDA O BUMBA-MEU-BOI O que é Um auto que reúne teatro, dança e música. A narrativa começa quando Catirina, que está grávida, sente desejo de comer a língua do boi predileto de seu amo. A escrava convence o marido, pai Francisco, a matar o boi. A história é representada em cinco "sotaques", termo usado para indicar o estilo musical e as roupas de cada grupo Personagens Boi - Figura central do auto. Feito de buriti com couro bordado Catirina - Grávida de pai Francisco, deseja comer a língua do boi mais bonito da fazenda Pai Francisco - Mata o melhor animal de seu patrão e foge Amo - Dono da fazenda. Manda caçarem o fugitivo Pajé - Personagem que, a pedido de pai Francisco, consegue ressuscitar o famoso boi Sotaques Matraca - O mais lento dos ritmos, com bailado pouco gingado, ligeiro e curto. O agudo das matracas contrasta com o grave dos tambores e produz um som único Zabumba - Mais antigo. O nome tem origem em seu instrumento base, a zabumba, utilizada ao lado do maracá, do tamborinho e do tambor-onça Costa-de-mão - Um dos principais diferenciais da brincadeira é o fato de pequenos pandeiros serem tocados com as costas das mãos, emitindo som mais agudo Orquestra - Banjo, saxofone, clarineta e piston são alguns dos instrumentos usados. É o ritmo mais faceiro e brincalhão Baixada - Lembra o sotaque matraca, mas nele se destacam as batidas dos pandeirões. O ritmo é mais compassado e os pandeiros usados, menores.

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