Urna ou lixeira?

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Por Nelson Motta
Atualização:

Ao contrário do que eles dizem, o problema não é o nosso sistema eleitoral: são os seus usuários. Com esses políticos que temos hoje nenhum sistema funcionaria. Porque eles encontram sempre uma forma de driblar a lei em benefício próprio. Mas sempre dizem que é em nome do povo, do partido ou da causa. São eles que precisam de reforma. O problema não é quem doa ou quanto doa, mas como o faz. Quando se sabe quem doou a quem, é fácil fiscalizar a atuação do parlamentar em eventuais interesses de seus doadores. Alguém no Brasil acredita que, com o financiamento público das campanhas, vão acabar as doações de dinheiro e de serviços por fora? Com esse pessoal que está mais nas páginas de Polícia do que de Política? Nem a Velhinha de Taubaté, viajando de ácido. E as listas fechadas de candidatos? Agora mesmo nossos hermanos argentinos estão provando a eficiência democrática desse modelo. Com a popularidade despencando, os Kirchners anteciparam as eleições e apresentaram suas listas para o Congresso, puxadas por candidaturas "testimoniais", ou seja, de grandes nomes, puxadores de votos, que podem eleger uma grande bancada. Claro, depois de eleitos, eles renunciam aos mandatos e vão, ou voltam, para o governo, abrindo vagas para o resto da lista feita pelos caciques do partido. Patria o muerte! Nem como cortina de fumaça para os escândalos do Congresso servem essas caricaturas de reforma política. A maior evidência é que ninguém discute o voto obrigatório, essa excrescência brasileira, única entre as grandes democracias. Que valor tem a escolha de alguém que vota porque é obrigado? São votos eticamente nulos e politicamente irresponsáveis, que só beneficiam os piores candidatos. Mas todos disputam esses votos podres como urubus a carniças. É o que eles chamam de exercício da democracia: de tanto votar errado, o eleitor vai acabar acertando. É por isso que o Congresso está cada vez melhor. E ainda dizem que é um dever, mais um. Dever é uma obrigação, como pagar impostos, que fazemos a contragosto. Ou ter vergonha na cara. Direito é a liberdade de escolher. Ou não.

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